A las cinco de la tarde.

 O título do texto é uma frase retirada de um poema de Frederico Garcia Lorca contando os acontecimentos ocorridos nesse horário. É nesse horário que gosto de caminhar na ciclovia de Carlinda. Não sei porque a chamam ciclovia, poderia muito bem chamar pista de caminhada. É um ótimo ponto para uma caminhada segura e precisa. E nesse horário tenho a companhia de um avião que cruza o céu na direção Norte-Sul. No início da caminhada procuro um risco branco que corta o azul tranquilo e sem nuvens do céu. Aposto corrida com ele, eu andando é claro, e sempre me vence. Minha filha, cheia de dúvidas, questiona sobre a velocidade, sobre a distância, de onde ele saiu e para onde vai, e assim vai construindo o seu conhecimento olhando para o céu. É nesse horário que aprecio por do sol. Fico observando o contraste da luz vermelho-amarelada no azul celeste. As nuvens, poucas, ficam num tom único, difícil de descrever e de conseguir retratar num quadro. Mais lindo ainda quando, ao final da ciclovia, eu observo o por do sol de um lado, e a lua de outro, foram três dias que isso aconteceu. Tenho a companhia do aroma das flores, poucas, mas que persistem além da seca que castiga. No céu, em direção ao por do sol, um casal de araras e atrás dele, como um gargarejo ou grito desesperado uma arara menor. Provavelmente o casal retorna ao ninho e o filhote atrás gritando: “Esperem por mim! Esperem por mim”. Passando em sentido contrário um bando de garças. A gente lê textos e mais textos falando que elas voam em forma de V e mesmo assim fica emocionado quando vê um grupo delas voando nessa forma. No chão, além da grama meio amarela pela falta de chuva, galinhas procurando comida num terreno preparado para o plantio. É claro que temos a companhia dos carros, ao lado no asfalto, e seus barulhos as vezes incomodante. No retorno, observo nuvens escuras anunciando chuva em algum lugar, talvez aqui, por que não? Caminhar tranquiliza; areja; alivia o cansaço e proporciona olhares inspiradores. E tudo em  a las cinco de la tarde.

Valter Figueira