28.7.21

Foi um engano!


Enquanto eu sonhava,
você ria.
Enquanto eu persistia,
você ria.
Não acreditei
quando constatei
que tudo foi um engano.
Meu coração está machucado,
dilacerado,
amedrontado,
tudo isso por acreditar
que era possível.
Acreditei que o desejo
superaria as regras.
Acreditei que o amor
superaria desavenças.
Acreditei em paixão.
Agora sei que você
é um engano.
Ou não?
Valter Figueira
Poema publicado na Coletânea: Noites de Poesia em Portugal

Miniconto

 

O baque do caminhoneiro foi inocente comparado ao golpe sofrido pelo ciclista quando as molas o atingiu expondo sua fíbula no asfalto molhado.
Valter Figueira

Microconto


Crime
Sobre o balcão do bar doze pires. Na beira da piscina doze xícaras. Na água doze corpos. Foi um amargo chá.

Ilusões

 

Vivemos de saudade e de ilusão
tenho saudade de alguns fatos
atos e atitudes
namoros beijos e afagos
e fico na ilusão
de que tivesse acontecido diferente
se tivesse tomado outro rumo
se tivesse arriscado e investido mais
se tivesse fugido por aí
com os amores impróprios proibidos.
O meu eu deveria ser dividido
era tudo ao mesmo tempo
tudo num conjunto de conquistas.
Hoje curto a saudade
e a falta que faz
aquilo que não aconteceu
daquilo que prescreveu
e que não esquecemos
Vivo de e na ilusão
de que algo me salvará
me levará para um ponto
onde poderei olhar para trás
e dizer que valeu a pena
mas não valeu.
Ainda não valeu.
Valter Figueira

Procurei você

 

Procurei você entre os transeuntes,
encontrei a solidão das horas.
Procurei meu berço esplêndido,
encontrei a mágoa do choro.
Procurei recantos e jardins
na ânsia de uma paixão
no limite de uma relva.
Procurei amigos nos bares,
botecos e becos escuros,
sujei a mão de graxa
encantando a lua.
Procurei sexo nas ruas
sujas de um puteiro,
encontrei a amargura
de vidas solitárias.
Procurei dinheiro em bancos,
encontrei o débito sem perdão.
Procurei aventuras na turvação de um rio, e rir de uma mazela.
Procurei eu nos outros
encontrei os outros em mim.
Do livro " A morte do Xerife" 2008