28.7.16

Carlinda: uma incógnita



Quando mudei para Carlinda busquei algumas informações sobre o município, principalmente sobre a origem do nome da cidade. Quando fui orientador de um grupo de graduação NEAD-UFMT, alguns graduandos apresentaram na disciplina de história do Mato Grosso, alguns momentos históricos do município. Ao acompanhar os levantamentos dos dados para a constituição dos PPPs das escolas municipais fiquei conhecendo um pouco mais da construção histórica de nossa cidade. E assim fui conhecendo e hoje fazendo parte da história de Carlinda. Mas para aprofundar e conhecer mais, faltava alguns dados. Quem foi Carlinda?
Conforme algumas publicações que foram adotadas como reais constam que: O capitão Antonio Lourenço Telles Pires chefe de uma comissão responsável de realizar um levantamento geográfico navegando o Rio São Manoel, quando passou pela foz do rio o batizou de Carlinda em homenagem a sua esposa a Sr. Carlinda Lourenço Telles Pires, pela data da passagem coincidir com o seu aniversário. Logo após chegando próximo a foz do Rio Paranaíta sofreu um acidente vindo a falecer, e então deram ao rio o seu nome. Eu queria saber mais, tanto que fiz um poema falando da proeza do Capitão e de seu amor ao homenagear sua amada. Mas quem foi Carlinda, quando nasceu?
Utilizando a internet como caminho para a pesquisa, no site da Biblioteca Nacional encontrei digitalizado os boletins da Sociedade Geográfica do Rio de Janeiro, órgão que organizou e patrocinou a comissão do Capitão Telles Pires. Lendo o seu histórico e o relatório apresentado pelo 2º Tenente Oscar de Oliveira Miranda descobri que: Antonio Lourenço Telles Pires nasceu em Porto Alegre de 10 de Agosto de 1860 e faleceu em 02 de Maio de 1890. O Capitão não faleceu vítima dos acidentes, foram dois acidentes, na ocasião do segundo o Cap. Telles Pires já apresentava fortes sinais de febre palustre (malária). Tanto o Capitão como o Sr. Oscar caíram doentes e apenas o Sr. Oscar sobreviveu. O seu corpo foi enterrado num local chamado de Salto Tavares, conforme o mapa apresentado pela instituição fica depois das corredeiras conhecida por Sete Quedas. O que significa que o local será alagado devido a barragem da Usina Hidrelétrica. O Tenente Oscar de Oliveira mais alguns sobreviventes aguardou cerca de 90 dias até serem resgatado pelo Capitão José Soares de Souza Fogo que veio pelo rio Tapajós.
As anotações do Capitão Telles Pires foram todas perdidas nos acidentes, e não há nenhuma citação sobre a nomeação dos acidentes geográficos. Assim fica difícil confirmar o nome de Carlinda dado ao rio. No Boletim pesquisado há um pedido de pensão a família citando a viúva e filhos, mas não cita os nomes. Nos documentos do Senado Federal há uma solicitação de pensão a viúva do Capitão Telles Pires só que cita como nome da esposa a Sra. Adelaide de Paiva Telles Pires. Então se a esposa do Capitão se chamava Adelaide. Quem foi Carlinda? Pesquisando num site de genealogia encontrei uma citação do Capitão Telles Pires e esposa Adelaide e um filho Álvaro. Novamente fica a pergunta no ar. Quem foi Carlinda? Pode ser um apelido da mãe que se chamava Francisca Carolina Telles Pires. O que posso dizer é que ainda não encontrei, continuarei procurando.
Outra informação que acredito ser importante é que o Rio São Manoel não passou a ser chamado de Rio Telles Pires logo após a morte do Capitão. Não há citação sobre a mudança de nome. Em 1915 a comissão Rondon navegou o rio para as confirmações da carta geográfica. Essa comissão foi comandada por Antonio Pyrineus de Souza. O marechal Rondon estada em outro rio, talvez o Juruena. O marechal Rondon ficou conhecido por renomear os acidentes geográficos, mesmos os que já estavam nomeados. Ele rebatizava dando nomes de filhas, filhos e genros. Será que foi ele que nomeou o rio Carlinda? Foi em seu relatório e mapa que apareceu o rio Telles Pires. A única citação do nome Carlinda que encontrei foi num mapa feito pela equipe do Rondon e apresentado em 1942, está denominando uma ilha que fica próximo a foz do Ribeirão Rochedo. Ainda não aparece o rio Carlinda. O salto Tavares mudou o nome para Cachoeira Oscar Miranda e dessa vez aparece depois da foz do Rio Paranaíta. Buscando informações genealógicas do Marechal Rondon não encontrei o nome Carlinda. Fica ainda essa dúvida, quem foi Carlinda? Sabendo que a equipe de Rondon fez o mapa a partir das anotações cartográficas do Capitão Pyrineus, é claro que ele foi nomeando ilhas, rios, cachoeiras etc.
Em resumo descobrimos que Carlinda não foi esposa do Capitão Telles Pires; que o nome foi dado primeiro a uma ilha e depois ao rio; que o nome da cidade de Paranaíta veio do rio do mesmo nome e que em 1942 já tinha esse nome, então não foi em homenagem aos paranaenses que colonizaram o local. Mas infelizmente não se descobriu quem foi Carlinda. Fica então uma dúvida que continuarei procurando.


Valter Figueira – Professor, poeta e prosador. Reside em Carlinda.

11.7.16

Vote em mim



Quando deparamos com o processo eleitoral, ou melhor com a época de campanha é que procuramos saber o que de fato fez aquele candidato que, não votamos nele e nem entendemos como ele foi eleito. É claro que sabemos como ele foi eleito, afinal existe gente que vota em alguns tipos que realmente dá vergonha de ser representado pelo sujeito.
Para me explicar como é o processo, ou melhor, para exemplificar que nos cargos eletivos existe alguns que não poderia estar lá. Entrevistei o Sr. X, legislador e candidato a um novo mandato. Vamos a entrevista.
Eu: Gostaria que o Sr. explicasse como foi o seu dia de trabalho hoje.
Sr. X: Me chama de Excelência, afinal de contas você está falando com uma autoridade.
Eu: Tudo bem Excelência, como estou lhe entrevistando para um artigo sobre o trabalho de um legislador me conte como foi o seu dia hoje.
Sr. X: Bem começamos com uma oração, porque é importante glorificar a Deus e agradecer por tudo que conquistamos. Tivemos uma reunião com secretários e depois com os meus correligionários.
Eu: Excelência, o Sr. está sendo acusado de desviar 50 por cento da verba para a construção de uma ponte. Que inclusive está com problema estrutural.
Sr. X: Bem uma parte foi direcionado para a obra de Deus, Ele sabe o quanto oramos e o quanto fazemos para Sua obra. A ponte está bem, todos os dias oramos para que nada demais aconteça com ela.
Eu: O Sr. Está informado que hoje, com a passagem de um caminhão carregado de madeira ela trincou.
Sr. X: Quem foi o pecador que passou por lá e permitiu que ela trincasse? Só pode ser um filho do diabo. Uma pessoa carregada de pecados.
Eu: Olha Sr. X, foi o seu irmão dirigindo um caminhão vindo de sua fazenda.
Sr. X: Então deve ser esse povo pecador da cidade que não ora e não pratica a vontade de Deus.
Eu: Mas Sr. Excelência, a ponte está caindo e vai acabar matando pessoas, tudo porque usaram material inferior, porque a verba foi desviada.
Sr. X: Lembre e escreva aí. Desviada para uma obra de Deus. Deus protegerá as pessoas dessa cidade.
Eu. Excelência, mas estão dizendo que o dinheiro desviado foi para construir uma piscina e churrasqueira em sua mansão.
Sr. X. Então, minha casa também é uma obra de Deus. Afinal sou o mensageiro de Deus.
Eu: O sr. Não acha que o senhor é muito desonesto para ser mensageiro de Deus.
Sr. X: Vamos terminar essa entrevista.
Eu: mas o senhor é candidato. Fale como será sua campanha.
Sr. X: O povo sabe quem eu sou. Sabe que metade do meu salário vai para a igreja e para as cestas básicas que a igreja distribui.
Eu: Mas Excelência, distribuir cestas básicas é compra de votos.
Sr. X: Você, rapazinho insolente, não entende de política.


O sujeito, homem de Deus, construtor da obra divina, fechou o semblante e ameaçou jogar um cinzeiro em mim. Ao sair, contemplei a fachada de sua casa e imaginei o quanto de dízimo e desvio de verbas foi empregado ali. Ao lado do portão um cartaz com o sujeito com cara de pedinte e a frase vote em mim.