30.3.12

Razões



Não, não é porque já não nos amamos,
sim porque a brisa marítima
já não produz aquela vertigem marina.

Não, não é porque não nos compreendemos,
sim porque o sol não aparece
e os dias são sóbrios e nublados.

Não, não é porque temos diferentes interesses,
sim porque o seu sorriso e seu olhar
deixaram de iluminar meus sonhos.

Não, não é porque há alguém mais em nossas vidas,
sim porque seus sonhos são incompreensíveis
e fizeram naufragar os meus.

Não, não é porque pensamos diferente.
Sim porque seus passos na areia
não chegaram a barca de meu corpo.

Valter Figueira
Do livro "O Anjo Rosa"

24.3.12

Pobre ou humilde? (sobre humildade)



Ao se dirigir a alguma pessoa como o poder aquisitivo menor que o nosso, quando somos o interlocutor, ou pessoas que têm bens e pouco conhecimento, do nosso ponto de vista, sempre preferimos utilizar o termo humilde ao invés do termo pobre. Mas, não provocando os filólogos, há uma grande diferença entre os dois ternos, principalmente no contexto que são usados. Preferimos utilizar a palavra humilde por considerarmos o termo pobre uma palavra de cunho pejorativo e preconceituoso.

Ao ler uma coletânea de ensaios sobre os trabalhos de alguns filósofos incluindo Marx, Adorno, Foucault e Bourdieu. Nos finais dos textos, o editorial da publicação, trazia uma pequena biografia do pensador estudado, e na biografia de um deles está dessa maneira: “Pierre Bourdieu (1930- 2002) Filho de família humilde...” Ora, porque será que o editor não disse que o filósofo vem de uma família pobre? Será que há um preconceito com a palavra pobre? Sabemos que grandes nomes da humanidade tem origem pobre, porque não usar esse termo. Na mesma revista aparece a biografia de Carl Marx que era pobre e sustentado por amigos, mas isso não aparece.

No livro “Pequeno tratado das grandes virtudes” o filósofo André Comte-Sponvilli descreve a humildade como uma virtude humilde e que as vezes não é classificada como virtude. Uma vez que ser humilde é aceitar os erros e considerar alguém ou algo maior que o eu. Assim ela passa a ser uma virtude dos que se ajoelham e aceitam o seu destino. Spinoza diz que a humildade é uma tristeza nascida do fato de o homem considerar sua impotência ou sua fraqueza. Se a humildade é uma tristeza, então não é uma virtude é um estado de alma.

Aristótoles coloca a humildade como baixeza ou pequenez “Ser baixo é privar-se daquilo de que é digno, é desconhecer o seu valor real, a ponto de se interditar qualquer ação um pouco elevada, por nunca se acreditar capaz dela.” Para Bernard Poutrat baixeza é fazer de si, por tristeza, menos caso do que seria justo.

Neste tempo em que os programas de auto ajuda proliferam será que o terno ou a virtude humildade vem sendo empregado de forma correta? Lembrando que a baixeza nasce da humildade. Quando a humildade se torna baixeza entramos num círculo vicioso e perigoso dando razão ao que diz Kant “quem se transforma em minhoca não deve queixar-se depois, de ser pisado.” A humildade também pode ser o ato de deixar que pisem em nosso ego. Muito cuidado, diversas sabedorias religiosas nos levam a transformar em minhocas.

Em relação a isso Nietzsche rebate “A minhoca se enrola quando pisamos nela. Isso encerra muita sabedoria. Com isso, ela diminui a possibilidade de que tornem a pisar nela. Na linguagem moral: humildade.” Essa é, ao meu ver, uma inteligente definição de humildade. Aceitar o erro para não tornar as coisas piores. Mas também não pode ser usada em todas as ocasiões. É claro que não posso aceitar uma argumentação de uma autoridade legislativa desprovida de conhecimento num assunto que estudei para discutir. Nesse caso e em outros nunca serei humilde. Ou melhor, isso não é humildade e sim aceitar a opinião simplesmente porque o outro detém um título.

A humildade é um saber antes de ser uma virtude. Mais vale se depreciar do que se enganar. Santo Agostinho completa “Onde está a humildade está também a caridade.” Se a caridade é para os humildes então podemos dizer que a humildade pertence aos pobres. Mesmo assim não podemos utilizar a humildade como baixeza.

O termo pobre define a ausência de algo. Aquele que não tem o necessário a vida. Se for assim, podemos dizer que os brasileiros que se encontram na linha da pobreza não dispõe do necessário para a vida? Estão morrendo? Isso é outro erro. Mas porque em alguns casos utilizamos o terno pobre, e não preferimos o termo humilde. Ex. Esse texto está humilde de informação. Ele é humilde de espírito.

Para afirmamos que o filósofo estudado veio de uma família humilde, o autor do ensaio teria que pesquisar muito mais do que as posses da família. Já que no texto a humilde significa pobre porque não usar família de poucas posses?

Eu vim de uma família pobre, de pouquíssimas posses, mesmo assim não considero totalmente humilde. Porque acredito que ser humilde não é virtude apenas de quem tem poucas ou nenhuma posse. Posso afirmar que não me transformei na minhoca de Kant. Mas com certeza usei a comparação da minhoca feita por Nietzsche. E em minha biografia colocarei que vim de uma família pobre. Agora humildade mesmo é reconhecer que necessitamos de mais conhecimentos e estudar. Estude para não cair na baixeza, e ser um pobre de conhecimento.

Valter Figueira 

13.3.12

As leis e a (falta de) Educação


No Brasil para maquiar a falta de educação do povo criam-se leis e proibições. Talvez exagero em dizer que é falta de educação, da educação vinda de casa e da educação enriquecida com a participação do indivíduo na escola. Mas não há exagero em afirmar que a maioria dos acidentes, vias de fatos o que ocasionam um aumento nas filas dos hospitais públicos, seriam evitados se a população, ou alguns sujeitos da população, tivesse um pouco mais de conhecimento.

O fato de ter conhecimento, adquirir ou construir conhecimento, requer uma mudança de postura e mudança de atitude. Quando o governo lança uma campanha, por todos os meios de comunicação possíveis, objetivando a conscientização da população ou uma parcela dela, se não houver uma mudança de atitude dessa população podemos afirmar que não houve conscientização.

Todos nós sabemos que a ingestão de bebidas alcoólica compromete nossos movimentos, equilíbrio e nosso reflexo. Com isso nos deixa a mercê do perigo iminente quando estamos ao volante de um veículo. Ao prestarmos exames para a habilitação somos alertados disso. Apesar de termos o conhecimento persistimos em fazer o errado. Somos demagogos, ou adeptos do triste e ignorante ditado de que leis e regras foram feitas para serem descumpridas?

Por sermos não cumpridores das regrais morais da sociedade é que se criam leis punitivas para aqueles que sabem o que é o correto e teimam em continuar fazendo o errado. Seria necessário uma lei como a “Lei seca” se fossemos corretos? É claro que os que persistem no erro devem ser punidos. E esses “erros” no trânsito são cometidos conscientemente. Então não são erros, são crimes.

Na escola falamos que “aprendemos ao buscar soluções para nossos erros” no trânsito não dá tempo para refletir sobre os erros, vidas são ceifadas e corpos aleijados, tem que pensar antes.

É inaceitável que alguém envolvido num acidente de trânsito se recuse a fazer o teste do bafômetro. Ora só o fato dele estar ao volante de um veículo, requer que ele obedeça algumas regras e leis – estar habilitado e em condições de dirigir, o carro com documentos em dias, etc – isso inclui não ter ingerido bebida alcoólica antes e durante o tempo de condução do veículo. Mas existe uma brecha nas leis que muitos se valem dela “o cidadão não pode produzir provas contra si mesmo”. O acidente em si já não é uma prova do erro? Da mesma forma que as leis existem para corrigirem os erros, acabam contribuindo para fugir de algumas punições.

Assim como o existe o teste para verificar se o atleta usou drogas, existe o teste do bafômetro para o motorista. E ele ao ser parado numa barreira policial deveria ser obrigatório realizar o teste. Quando há a recusa logo imaginamos que tem culpa.

Afinal de contas para quem é a lei seca? Os motoristas que tem conhecimento dessa “brecha” se esquivam do bafômetro e aqueles que não tem conhecimento acabam sendo corretos e levando as maiores punições, até encontrarem outra forma de fugir dela. Quantos estão na prisão pagando penas por crimes cometidos no trânsito? Qual o nível de escolaridade deles? E qual classe econômica eles fazem parte?

É um direito do cidadão brasileiro alcoolizado negar que está bêbado? Sim é um direito. Assim como é direito do cidadão viver em paz, e essa paz não ser interrompida por um bêbado.

Valter Figueira