4.10.17

Prosa e poesia

Seguindo nossa caminhada literária pelos poetas haicaístas, o espaço de hoje é dedicado a poetisa Helena Kolody, paranaense, professora, foi a primeira mulher brasileira a utilizar a estrutura haicai em suas poesias.
Helena Kolody (1912-2004) considerada uma das maiores representantes literárias do Estado do Paraná. Nasceu na cidade de Cruz Machado, no Paraná, no dia 12 de outubro de 1912. Com 12 anos escreveu seus primeiros versos. Em 1928, com 16 anos, tem seu poema “A Lágrima” pulicado na revista “Marinha”, de Paranaguá, a maior divulgadora de sua obra. Em 1941, Helena Kolody publicou seu primeiro livro “Paisagem Interior”. Em 1941, escreveu seus primeiros haicais, sendo criticada, por não ter rima, mas continuou publicando essa forma de poesia. Grande parte de sua vida foi dedicada à poesia. Faleceu em Curitiba, Paraná, no dia 15 de fevereiro de 2004.
Alguns haicais de Helena Kolody:



A flecha de sol
pinta estrelas na vidraça.
Despede-se o dia.

Bate breve o gongo.
Na amplidão do templo ecoa
o som lento e longo.

Corrida no parque.
O menino inválido
aplaude os atletas.

Da estátua de areia
nada restará
depois da maré cheia

Depois será sempre agora
viajarei pelas galáxias
universo afora

Dormem as papoulas
a lua sonha no céu
vigiam os grilos

Em líquidos caules,
irisadas flores d'água
cintilam ao sol.

Festa das Lanternas!
Os ipês estão luzindo
De globos cor-de-ouro.

Luar nos cabelos.
Constelações na memória.
Orvalho no olhar.

Manhã nas flores do cardo
leve poeira de orvalho
manhã no deserto

Nas flores do cardo,
leve poeira de orvalho.
Manhã no deserto.


Nas mãos inspiradas
nascem antigas palavras
com novo matiz.

O brilho da lâmpada,
no interior da morada,
empalidece as estrelas.

Os olhos do amado
esqueceram-se nos teus.
Perdidos em sonho

Para quem viaja
ao encontro do sol
é sempre madrugada.

Puseste a gaiola
suspensa dum ramo em flor
num dia de sol

Pintou estrelas no muro
e teve o céu
ao alcance das mãos.

Será sempre agora.
Viajarei pelas galáxias
universo afora.

Tão longa a jornada!
E a gente cai, de repente,
No abismo do nada.

Trêmula gota de orvalho
Presa na teia de aranha,
rebrilhando como estrela.

Um sabiá cantou.
Longe, dançou o arvoredo.
Choveram saudades.

Voo solitário
na fímbria da noite
em busca do pouso distante