28.10.11

Poesias

"A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita." (Mário Quintana)

"Quero, um dia, dizer às pessoas que nada foi em vão... Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades e às pessoas, que a vida é bela sim e que eu sempre dei o melhor de mim...e que valeu a pena." (Mário Quintana)

"Não importa saber se a gente acredita em Deus: o importante é saber se Deus acredita na gente." (Mário Quintana)

"Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem." (Mário Quintana)

"O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro." (Mário Quintana)

"O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso." (Mário Quintana)

"A literatura é a melhor maneira de ignorar a vida." (Fernando Pessoa)

"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas... continuarei a escrever." (Clarice Lispector)

"Eu sou mais forte do que eu." (Clarice Lispector)

"Quanto a mim mesma, sempre conservei uma aspa à esquerda e outra à direita de mim." (Clarice Lispector)

"Procurei por todos os meios adquirir a paz do coração, encontrei-a somente na solidão levando um livro comigo."(Thomaz A. Kempis)

"O amor aos livros capacita o homem a transformar momentos de tédio em momentos de prazer." (Montesquier)

"O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado." (Mário Quintana)

"De ti não levo mágoas.

Essas a água leva.

Não levo também as dores.

Não me dói deixá-las.

Deixo saudades porque não vou precisar.

Pois para esse branco, braço não vai faltar.

Nem cabeça para ideias, nem coração para amores.

O que vier, eu traço.

Pra ti, deixo meu abraço."

(Carlos Drummond de Andrade)

"O mundo é minha representação. (...). Não se conhece um sol nem uma terra e, sim, unicamente, o olho que vê o sol e a mão que sente o contato com a terra. O mundo que o rodeia não existe mais do que como representação, isto é, em relação com outro ser.” (Schopenhauer)

"Escrever não é desistir de falar, é empurrar o silêncio para fora." (Fabrício Carpinejar)

"O preconceito é um pensamento parado." (Fabrício Carpinejar)

"Quando se patina sobre gelo fino, a segurança está na velocidade." (Ralph Waldo Emerson)

"As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem." (Chico Buarque)

"No que depender de mim, me recuso a ser infeliz." (Caio Fernando Abreu)
"Tô me afastando de tudo que me atrasa, me engana, me segura e me retém. Fui ser feliz, e não volto!" (Caio Fernando Abreu)

24.10.11

Hábitos de escrita

Num artigo intitulado “A anatomia da escrita”, da NS´(Notícias Sábado – 276) podem ler-se alguns dos vícios/ tiques de sete escritores portugueses de renome. São eles Hélia Correia, Jaime Rocha, Lídia Jorge, Alice Vieira, José Luís Peixoto, Urbano Tavares Rodrigues e David Machado. Hélia Correia vive nos seus quotidianos ficcionais, adorando permanecer “noutros sítios e noutros tempos”, onde o fazer-de-conta é o seu mundo verdadeiro. Adora esperar sem ter de forçar a escrita, e esperar pela chuva para ganhar energia no aconchego da palavra que se vai fixando na página. Insurge-se contra a palavra esperada/ exata que teima em não aparecer, deixando a frase solta e inacabada, mas resigna-se, mesmo se isso é fisicamente desgastante, porque, afinal, a palavra manda. Isto é, exige um dado momento, num dado espaço que é o dela.
Jaime Rocha, que foi durante mais de trinta anos jornalista, não separa a escrita do que o rodeia, contudo, para entrar no ato literário da produção, afirma ter de estar absolutamente sozinho porque “o chamamento para a vida quotidiana é muito forte”. Criando rituais, com a música, a pintura e a sua solidão, Jaime Rocha, prepara a “chegada da escrita” como se de momento ritualista se tratasse: “Se é a poesia ou romance tenho de ter música erudita e pintura surrealista ou expressionista. A música, que cria uma intimidade e propícia, e os álbuns de pintura, que exponho na secretária de trabalho, fazem-me entrar num espaço outro, muito singular, interior”.

Lídia Jorge fala do exercício da criação literária, do quanto resiste às ideias embrionárias no sentido de avaliá-las. Fala igualmente da sedução que estas impõem não lhe saindo nem da cabeça nem da vida e, percebendo que estas podem ter “qualquer coisa de vulcânico e de revelador”, a escritora cede ao momento da experimentação. Faz-se então silêncio para que o trabalho da criação aconteça durante “todo o tempo do mundo”.
Se Lídia Jorge apela ao silêncio, Alice Vieira, que se denomina uma escritora de vícios, precisa do “barulho da rua, do barulho da vida das pessoas, dos carros a travar, das pessoas a falar”, o que a leva a manter a janela aberta no momento em que escreve e beberica café. Confessa “não ser de escrita fácil”, mesmo se o número avultado de publicações parece querer demonstrar o contrário, e por isso trabalha muito, sobretudo quando se trata da narrativa. Trabalha as palavras e as ideias, não ficando à espera que a inspiração lhe bata à porta. Mais dedicada à literatura infantojuvenil, a escritora confessa ainda distinguir o momento introdutório, onde é necessário prender desde logo o leitor, do momento conclusivo em que, sentindo que só falta meia página, se levanta e vai beber um café para saborear o momento em que coloca o ponto que marca mais um final.
José Luís Peixoto também afirma que o momento de colocar o ponto final lhe é inesquecível. Fica-lhe inclusive na memória o espaço onde estava e como estava nesse momento especial. Afirma também conciliar a sua vida com a escrita para que nela se dilua o que vive e se conciliem a sensibilidade e a disposição. Tem rituais de escrita que não divulga, mas aborda a necessidade de instalar rotinas para assegurar o controlo do tempo e o ajuste com a escrita. Tal como muitos outros prefere o aconchego do silêncio, o tal “quarto sem janelas” que descreve em Nenhum olhar (2005), porque “no momento da escrita, a atividade passa-se toda por dentro”.
Com uma obra literária cuja característica principal é a tomada de consciência do indivíduo face a si mesmo e ao outro, Urbano Tavares Rodrigues ainda prefere escrever à mão, privilegiando o aconchego da noite ou o final da tarde para se encontrar com a escrita pois, aí, nesse tempo somado de horas passadas, encontra-se com os sonhos, a matéria onírica, onde apoia a sua criação. Hoje, aos 87 anos, é na sua secretária que escreve a maior parte dos seus textos, mas já escreveu em qualquer lado, ‘matando o tempo’, mal a inspiração surgia ou andava obcecado com um romance.
David Machado diz, perentório, que não se escreve só quando se está a escrever. Compreendemos que para este escritor as ideias precisam de ser trabalhadas e as palavras bem polidas, num trabalho que é o do artesão. Depois de estruturada a história, na cabeça, DM disciplina-se e cria rotinas rígidas, sentando-se de manhã ao computador para escrever cerca de sete horas e de preferência no silêncio que requer a escrita criativa. Bastante perfeccionista no que escreve, confessa corrigir imenso os seus textos, sobretudo o primeiro capítulo: “sou capaz de reescrever dez ou quinze vezes até o achar sólido o suficiente para lhe dar continuidade.”

Gisela Silva- Publicado no blog voxnostra

3.10.11

Os olhos abertos e cegos do homem,


“ Eu vivia como todo mundo, vendo a vida com os olhos abertos e cegos do homem, sem me espantar e sem compreender. Vivia como vivem os animais, como vivemos todos, cumprindo todas as funções da existência, observando e acreditando ver, acreditando saber, acreditando conhecer o que nos cerca, quando, um dia, me dei conta de que tudo é falso.”

Guy de  Maupassant, Carta de um louco