28.3.18

Agora! Agora?


Percebo agora
que era tudo vidro e quebrou
que eu não era tão forte
como você imaginava.
Percebo agora
que tudo era uma grande utopia
que o sentimento não era tão sólido
como eu dizia.
Percebo agora
que tudo era feito com mentiras
que se dissipou com o primeiro vendaval
não era o que nós queríamos.

26.3.18

Horror no garimpo





Conheci Luiz numa loja de móveis em que trabalhei alguns meses. Luiz era montador de móveis e motorista do caminhão de entrega. Num dia sem movimento ele contou uma história horrenda que de início não acreditei. Ele afirmou que era verdade que estava lá quando aconteceu e tinha fotos para mostrar. Conta ele que certo dia no garimpo, era feriado religioso, por isso os garimpeiros estavam de folga nos barracos. No barracão central que servia de refeitório, bar e local adequado para jogarem baralho ou simplesmente conversarem, estava a maioria dos trabalhadores.
Foi então que um avião começou a fazer uns voos sobre o barracão. Soubemos que um garimpeiro bamburrado queria fazer graça. Alugou o avião e pediu ao piloto para passar sobre o barracão para ver todos tremerem. Alguns saíram para fora e ficavam jogando praga nos ocupantes do avião.
Luiz pegou a sua máquina fotográfica e se distanciou do barracão para ver se conseguir alguma foto. Foi então que o piloto perdeu a direção, desceu demais da conta e foi atropelando quem estava na frente. O avião atravessou o barracão na altura das mesas parando bem próximo do balcão de bebidas, Era quase 10 metros de salão que foi todo tomado pelo avião.
Teve acidentados e algumas mortes. Alguns sujeitos com braços, pernas e costelas quebrados. Nisso o Luiz mostrou as fotos. Tinha dois sujeitos que foram cortados ao meio na altura da cintura. As fotos eram horripilantes.
Os garimpeiros que não estavam feridos se organizaram para ajudar os feridos e correr atrás de locomoção para o hospital mais perto. Piloto e passageiro estavam mortos.
Tinha outro avião na pista. Buscaram o piloto que estava pescando. Organizaram os feridos no avião e mais duas pessoas e o piloto se prepararam para o voo. Quando o avião levantou voo sem problema e já davam com o caso resolvido foi quando, não muito longe, o avião explodiu no ar.
Então começou um novo trabalho para eles. Como já tinham avisado a polícia via rádio era só aguardar para recolher os corpos. Luiz me mostrou outra foto, agora eles no meio da mata recolhendo os restos mortais dos ocupantes do avião que explodiu.


20.3.18

Quero pedras.


Joguem-me pedras

por favor pedras lascadas
não quero as polidas: rejeitarei
Quero pedras brutas
rochas enigmáticas
rochas com ranhuras misteriosas
para que eu desvende
os mistérios e os segredos
das pedras
da humanidade
da vida.

12.3.18

Ah! Era a lua




Eu olhava para o céu estrelado infinitamente
e pela cortina de minha janela te via
tão espetacularmente bela quando cheia.
- Ah! A lua. Era você Lua.

A mesma atração marítima por ti sentia
era um momento de buscar inspirações
para as minhas irrisórias canções de amor.
- Ah! A lua. Era você Lua.

Emocionado e solitário deitava na cama
pela janela você suavemente e calmamente
entrava e respeitosamente acariciava meu rosto.
- Ah! A lua. Era você Lua.

Procuro respostas para tristes perguntas
algo que sanasse minhas desesperadas dúvidas
no seu dourado brilho que me entorpece e me guia.
- É a lua. Que Lua.

11.3.18

Lembranças: O carrapicho e eu




Quando tinha 16 anos, estudava a noite e fui trabalhar no supermercado do Mazinho, em Cruzeiro do Sul- Pr. O mercado era pequeno, tinha apenas eu de funcionário. Trabalhava ali a família toda do Mazinho, ele a esposa, dois filhos adolescentes e eu. Era mês de dezembro e o feriado de Natal se aproximava.
Para contar esse caso preciso explicar quem era o carrapicho. Era um maltrapilho, não sei se posso dizer isso dele. Não tinha morada, então podemos considerar que era um morador de rua. Era sabido que dormia no salão paroquial, atrás da igreja católica. Seu aspecto lembrava uma pessoa alcoolizada. Não se cuidava, sempre a barba e o cabelos por fazer. Alguns diziam que ele tinha problemas mentais e assim contavam várias histórias sobre o coitado do carrapicho. Acredito que ele vivia de pequenos bicos e de doações. As crianças e jovens sentiam medo dele devido ao modo como se vestia, não era adepto a banhos. Nunca soube que era uma pessoa má, e não era. Quando alguém perguntava de onde viera ele respondia que veio de Três Corações, a cidade de Pelé. Em outras vezes dava respostas diferente a mesma pergunta.
Na véspera de Natal o Sr. Mazinho me convidou para almoçar no dia seguinte na casa dele, com a família. Me senti importante e com medo. Era a primeira vez que iria almoçar na casa de alguém que não fosse parente. Para mim ele era rico e em minha pequena cabeça de adolescente ricos e pobres não se misturavam. Eu era o empregado e ele o patrão. Então fui. Foi a primeira vez que almocei sentado todos em uma mesa. Em casa isso não acontecia. Foi a primeira vez que usei garfo e faca. Na mesa somente a família: o pai do Mazinho, a esposa, os dois filhos adolescente e uma menina ainda criança e além de mim estava também o carrapicho.
O Sr. Mazinho poderia ter convidado pessoas de seu círculo de amizade como prefeito, vereadores e outros. Mas, como homem de bom coração convidou um morador de rua. Uma pessoa que certamente passaria a natal esquecido por muitos, mas não foi esquecido pelo Mazinho. No início eu estranhei. Depois de refletir percebi que aquele gesto de convidar o carrapicho mostrou para mim que estava na casa de uma família acolhedora, que pensa no outro. Eu era tímido, se tivesse mais curiosidade tinha aprendido grandes lições de vida com o Mazinho e também com o carrapicho.
Hoje o Mazinho já deve ser avô e bisavô e ainda mora na mesma cidade. O mercado fechou, no prédio funciona uma loja de uma amiga minha de infância. O Carrapicho, soube depois que a família veio buscar, ele foi encontrar os seus.