11.9.16

Tento

Tento encontrar algo
para findar a dor
que deveras sinto
pelo abandono
pelo olhar de desprezo
pelo abraço ao longe
pelo grito temido
pelo gemido contido.
Procuro amenizar
a dor da saudade.
Procuro entender
a ruptura brusca.
Procuro entender
a falta de sonhos,
o desaparecimento
da poesia.
Procuro entender
a minha escolha,
a minha insanidade
a minha proeza
a minha destreza
a minha verdade.

7.9.16

Procuro repostas

Procuro repostas
para as minhas dúvidas
o vento está mudo
o tempo é meu inimigo
a espera é dolorosa. 
Faço perguntas ao além
recebo pontos de interrogação,
continuo minha busca
tudo parece ser em vão.
não quero fazer o que todos fazem
não quero os mesmos erros
quero aprender com meus tropeços
com ou sem respostas.
O vento continua mudo.

7.8.16

Vote em mim 2



Caros amigos, sou candidato a reeleição para o cargo de vereador, venho aqui pedir o seu voto para continuar lutando por vocês. Eis o que fiz durante esses quatro anos que passou:
- Na campanha passada não contei nenhuma mentira, disse que lutaria pelo povo e realmente fiz;
- Fui o vereador que mais visitei as comunidades fui tomar um cafezinho em todas;
- Sempre participo das festividades, você deve ter visto, vou as festas e patrocínio elas. Quando chego numa festa pago uma cervejinha ao pessoal do som para eles falar meu nome. Sou sempre lembrado.
- Fui a quase todos os velórios, participar de velório é importante, e outra tenho prova que em todos que fui eu chorei com a família. Os velórios em que não pude ir enviei minha esposa e ela também chora em velório, muito mais do que eu.
-Festividades nas escolas eu sempre participo. Dou sempre um brinde para que as nossas escolas possam arrecadar dinheiro, fazer uma rifa e assim comprar o que está faltando.
- Fui o vereador mais atuante: indiquei 20 projetos de noção de aplausos. O povo fica contente com uma noção de aplauso. É uma ação importante para a população, fico emocionado quando o povo que vão a câmara municipal aplaude de pé. O mais emocionante é saber que foi indicação minha.
- Sempre que tem uma família passando necessidade eu vou a casa de meus compadres e assim faço uma cesta básica para essa família. Isso é um projeto social.
- Vou sempre aos bailes dos aposentados. Danço com a senhoras que estão sozinhas. Elas ficam contentes e sempre votam em mim.
- Sempre que encontro amigos nos botecos pago caipirinhas para eles é emocionante ver a alegria nos rostos deles, é o vereador junto com o povo.
- Indiquei também que a prefeitura pintasse os troncos das árvores nas avenidas e praças.
- Participo de todos os eventos realizados pela prefeitura, os funcionários públicos adoram quando um vereador participa. É o vereador presente apoiando o funcionarismo público.
- Votei a favor em todos os projetos apresentados pelo prefeito. É o vereador trabalhando com o prefeito.
- No dia do professor envio sempre uma mensagem para eles. Acredito que o trabalho do professor é muito importante. É o vereador  apoiando a educação.
- Sempre vou aos campeonatos de futebol, sento no meio do povo, patrocínio premiações. É o vereador apoiando o esporte.
Bem caro amigo, isso é um pouco do que fiz e continuarei fazendo se for reeleito, é claro que conto com seu voto. Sou um vereador que sempre está apoiando o povo.


Valter Figueira -  Professor, poeta e prosador.

28.7.16

Carlinda: uma incógnita



Quando mudei para Carlinda busquei algumas informações sobre o município, principalmente sobre a origem do nome da cidade. Quando fui orientador de um grupo de graduação NEAD-UFMT, alguns graduandos apresentaram na disciplina de história do Mato Grosso, alguns momentos históricos do município. Ao acompanhar os levantamentos dos dados para a constituição dos PPPs das escolas municipais fiquei conhecendo um pouco mais da construção histórica de nossa cidade. E assim fui conhecendo e hoje fazendo parte da história de Carlinda. Mas para aprofundar e conhecer mais, faltava alguns dados. Quem foi Carlinda?
Conforme algumas publicações que foram adotadas como reais constam que: O capitão Antonio Lourenço Telles Pires chefe de uma comissão responsável de realizar um levantamento geográfico navegando o Rio São Manoel, quando passou pela foz do rio o batizou de Carlinda em homenagem a sua esposa a Sr. Carlinda Lourenço Telles Pires, pela data da passagem coincidir com o seu aniversário. Logo após chegando próximo a foz do Rio Paranaíta sofreu um acidente vindo a falecer, e então deram ao rio o seu nome. Eu queria saber mais, tanto que fiz um poema falando da proeza do Capitão e de seu amor ao homenagear sua amada. Mas quem foi Carlinda, quando nasceu?
Utilizando a internet como caminho para a pesquisa, no site da Biblioteca Nacional encontrei digitalizado os boletins da Sociedade Geográfica do Rio de Janeiro, órgão que organizou e patrocinou a comissão do Capitão Telles Pires. Lendo o seu histórico e o relatório apresentado pelo 2º Tenente Oscar de Oliveira Miranda descobri que: Antonio Lourenço Telles Pires nasceu em Porto Alegre de 10 de Agosto de 1860 e faleceu em 02 de Maio de 1890. O Capitão não faleceu vítima dos acidentes, foram dois acidentes, na ocasião do segundo o Cap. Telles Pires já apresentava fortes sinais de febre palustre (malária). Tanto o Capitão como o Sr. Oscar caíram doentes e apenas o Sr. Oscar sobreviveu. O seu corpo foi enterrado num local chamado de Salto Tavares, conforme o mapa apresentado pela instituição fica depois das corredeiras conhecida por Sete Quedas. O que significa que o local será alagado devido a barragem da Usina Hidrelétrica. O Tenente Oscar de Oliveira mais alguns sobreviventes aguardou cerca de 90 dias até serem resgatado pelo Capitão José Soares de Souza Fogo que veio pelo rio Tapajós.
As anotações do Capitão Telles Pires foram todas perdidas nos acidentes, e não há nenhuma citação sobre a nomeação dos acidentes geográficos. Assim fica difícil confirmar o nome de Carlinda dado ao rio. No Boletim pesquisado há um pedido de pensão a família citando a viúva e filhos, mas não cita os nomes. Nos documentos do Senado Federal há uma solicitação de pensão a viúva do Capitão Telles Pires só que cita como nome da esposa a Sra. Adelaide de Paiva Telles Pires. Então se a esposa do Capitão se chamava Adelaide. Quem foi Carlinda? Pesquisando num site de genealogia encontrei uma citação do Capitão Telles Pires e esposa Adelaide e um filho Álvaro. Novamente fica a pergunta no ar. Quem foi Carlinda? Pode ser um apelido da mãe que se chamava Francisca Carolina Telles Pires. O que posso dizer é que ainda não encontrei, continuarei procurando.
Outra informação que acredito ser importante é que o Rio São Manoel não passou a ser chamado de Rio Telles Pires logo após a morte do Capitão. Não há citação sobre a mudança de nome. Em 1915 a comissão Rondon navegou o rio para as confirmações da carta geográfica. Essa comissão foi comandada por Antonio Pyrineus de Souza. O marechal Rondon estada em outro rio, talvez o Juruena. O marechal Rondon ficou conhecido por renomear os acidentes geográficos, mesmos os que já estavam nomeados. Ele rebatizava dando nomes de filhas, filhos e genros. Será que foi ele que nomeou o rio Carlinda? Foi em seu relatório e mapa que apareceu o rio Telles Pires. A única citação do nome Carlinda que encontrei foi num mapa feito pela equipe do Rondon e apresentado em 1942, está denominando uma ilha que fica próximo a foz do Ribeirão Rochedo. Ainda não aparece o rio Carlinda. O salto Tavares mudou o nome para Cachoeira Oscar Miranda e dessa vez aparece depois da foz do Rio Paranaíta. Buscando informações genealógicas do Marechal Rondon não encontrei o nome Carlinda. Fica ainda essa dúvida, quem foi Carlinda? Sabendo que a equipe de Rondon fez o mapa a partir das anotações cartográficas do Capitão Pyrineus, é claro que ele foi nomeando ilhas, rios, cachoeiras etc.
Em resumo descobrimos que Carlinda não foi esposa do Capitão Telles Pires; que o nome foi dado primeiro a uma ilha e depois ao rio; que o nome da cidade de Paranaíta veio do rio do mesmo nome e que em 1942 já tinha esse nome, então não foi em homenagem aos paranaenses que colonizaram o local. Mas infelizmente não se descobriu quem foi Carlinda. Fica então uma dúvida que continuarei procurando.


Valter Figueira – Professor, poeta e prosador. Reside em Carlinda.

11.7.16

Vote em mim



Quando deparamos com o processo eleitoral, ou melhor com a época de campanha é que procuramos saber o que de fato fez aquele candidato que, não votamos nele e nem entendemos como ele foi eleito. É claro que sabemos como ele foi eleito, afinal existe gente que vota em alguns tipos que realmente dá vergonha de ser representado pelo sujeito.
Para me explicar como é o processo, ou melhor, para exemplificar que nos cargos eletivos existe alguns que não poderia estar lá. Entrevistei o Sr. X, legislador e candidato a um novo mandato. Vamos a entrevista.
Eu: Gostaria que o Sr. explicasse como foi o seu dia de trabalho hoje.
Sr. X: Me chama de Excelência, afinal de contas você está falando com uma autoridade.
Eu: Tudo bem Excelência, como estou lhe entrevistando para um artigo sobre o trabalho de um legislador me conte como foi o seu dia hoje.
Sr. X: Bem começamos com uma oração, porque é importante glorificar a Deus e agradecer por tudo que conquistamos. Tivemos uma reunião com secretários e depois com os meus correligionários.
Eu: Excelência, o Sr. está sendo acusado de desviar 50 por cento da verba para a construção de uma ponte. Que inclusive está com problema estrutural.
Sr. X: Bem uma parte foi direcionado para a obra de Deus, Ele sabe o quanto oramos e o quanto fazemos para Sua obra. A ponte está bem, todos os dias oramos para que nada demais aconteça com ela.
Eu: O Sr. Está informado que hoje, com a passagem de um caminhão carregado de madeira ela trincou.
Sr. X: Quem foi o pecador que passou por lá e permitiu que ela trincasse? Só pode ser um filho do diabo. Uma pessoa carregada de pecados.
Eu: Olha Sr. X, foi o seu irmão dirigindo um caminhão vindo de sua fazenda.
Sr. X: Então deve ser esse povo pecador da cidade que não ora e não pratica a vontade de Deus.
Eu: Mas Sr. Excelência, a ponte está caindo e vai acabar matando pessoas, tudo porque usaram material inferior, porque a verba foi desviada.
Sr. X: Lembre e escreva aí. Desviada para uma obra de Deus. Deus protegerá as pessoas dessa cidade.
Eu. Excelência, mas estão dizendo que o dinheiro desviado foi para construir uma piscina e churrasqueira em sua mansão.
Sr. X. Então, minha casa também é uma obra de Deus. Afinal sou o mensageiro de Deus.
Eu: O sr. Não acha que o senhor é muito desonesto para ser mensageiro de Deus.
Sr. X: Vamos terminar essa entrevista.
Eu: mas o senhor é candidato. Fale como será sua campanha.
Sr. X: O povo sabe quem eu sou. Sabe que metade do meu salário vai para a igreja e para as cestas básicas que a igreja distribui.
Eu: Mas Excelência, distribuir cestas básicas é compra de votos.
Sr. X: Você, rapazinho insolente, não entende de política.


O sujeito, homem de Deus, construtor da obra divina, fechou o semblante e ameaçou jogar um cinzeiro em mim. Ao sair, contemplei a fachada de sua casa e imaginei o quanto de dízimo e desvio de verbas foi empregado ali. Ao lado do portão um cartaz com o sujeito com cara de pedinte e a frase vote em mim.

30.5.16

Elizabeth. Simplesmente Elizabeth.



Eu não encontrei um título mais chamativo para o meu texto. Encontrei sim. Poderia nomear de “Um exemplo de vida” ou “ Um exemplo de superação”. Ficaria muito comum e chamaria mais a atenção. Eu não quero leitores em busca de um texto de autoajuda e sim leitores de uma história real e brilhante. A história de Dona Elizabeth.
Nos meus primeiros dias como diretor da Escola Monteiro Lobato, quando tudo estava entrando nos eixos, aparece uma senhora demonstrando humildade, mas com um olhar jovial e encantador querendo estudar. Logo lhe informei que o EJA (educação de jovens e adultos) não iria funcionar nesse ano, ela simplesmente me disse que estudaria com as crianças. Para mim e para os professores era uma novidade, um desafio. Eu não acreditava que ela engajaria nos estudos e desse continuidade. Agora, quase no meio do ano ela continua firme, forte e feliz por estar aprendendo a ler e escrever.
A senhora Elizabeth Chaves dos Santos, casada com o senhor José Vicente dos Santos, agricultores, mora na MT 208, Sítio São José. Nasceu em 18 de Outubro de 1950 na cidade de Poções no Estado da Bahia. Criança ainda foi para o Paraná onde cresceu e frequentou muito pouco a escola. Trabalhou muito, quando criança no plantio e colheita do algodão, o que dificultava a continuidade dos estudos. No Paraná conheceu José que o acompanha até hoje. Com o José foi para Alagoas, algum tempo depois retornaram para o Estado de São Paulo e de lá para Carlinda. Chegou em Carlinda em 1986 e desde essa época, tirando alguns intervalos que foi para Alta Floresta, morou no sítio São José. Nessa caminhada da vida ela declara que teve mais momentos de felicidades do que de tristeza. E sua maior alegria é poder contar sempre com seus familiares e ao mesmo tempo, o que deixa triste é que uns dos filhos não estar mais com ela, faleceu num acidente de trânsito, e recentemente perdeu uma irmã que faleceu no estado de São Paulo.
Dona Elizabeth disse que procurou a escola porque queria aprender mais e se sentia constrangida por não saber ler. O pouco que estudou antes não deu bagagem suficiente para ler da forma que queria. Gosta de estudar com as crianças e de certa forma elas a incentiva a continuar sempre. Não sente vergonha, as crianças respeitam e até ajudam. E com um sorriso no rosto dá um recado para os “velhos” e para os jovens também dizendo que é bom saber ler e escrever e que é muito gratificante fazer parte da escola que é sua segunda casa.

Valter Figueira


21.4.16

Papo de Boteco



Numa quarta-feira quente, depois do expediente, passei no bar da esquina para tomar uma água tônica com gelo. Estava pensando em como resolver os percalços da vida e observando os diversos tipos físicos que frequentam o ambiente, de repente um vereador. Isso mesmo um vereador deu um toque em meu ombro e sentou na cadeira que estava vazia. Pensei porque fui deixar uma cadeira vazia ali do meu lado. Cumprimentou eu em particular e os demais por atacado. Pediu uma pinga. Uma pinga? Eu que até então acreditava que ele era evangélico. Mas tudo bem. E começou o papo.
“Professor fiquei sabendo que o senhor está organizando esse negócio de Plano Municipal de Educação, não é mesmo? Então é que tem uma coisa lá que quero discutir, esse negócio de gênero, sabe como é né? O pastor da minha igreja, um homem estudado que explica para a gente direitinho a bíblia. Então... ele disse que esse negócio de gênero é do capeta, que vai acabar com a família. Então professor como tá esse negócio”
Fiquei quieto observando o dito autoridade expor seus argumentos e toda a sua sabedoria. Em alguns momentos parece que ia babar e jogar para fora toda pinga que tomou. Mas não. Ainda no meio da conversa pediu mais uma dose e tentou explicar.
“Sabe! O pastor não sabe que eu tomo umas pingas. Mas sabe como é né? A gente precisa de uma igreja e nessa o pastor me ajuda a convencer os eleitores. E depois só tem eu de vereador lá. Sabe como é? O vereador tem que estar onde o povo está. Principalmente em velório, lá o povo vê a gente como humano e até dá para ganhar alguns votos. Então professor? Esse negócio de gênero como é que é?”  
Fiquei imaginando uma maneira de explicar a essa digníssima autoridade para que ele entenda. Foi então que saiu.
“Bem vereador, não se preocupe, pois contratamos um filólogo para analisar o texto do plano e ele trocou todas as palavras gêneros por sinônimos. E mais ainda ele trocou também as palavras generoso, general, generalidade e mais algumas para não provocar confusão”
“Nossa professor, o senhor é inteligente mesmo. Sinônimo o pastor não falou nada não. Acho que sinônimo tá bom né? Se fosse coisa ruim o pastor tinha falado. E esse cara que você disse que contratou é de Deus?”
“É de Deus sim vereador, ele é daquela igreja ali da outra esquina. Primo do pastor. Ele estava agora pouco aqui. Tomou uma cerveja e foi embora. É fácil encontrar ele, sempre está com um livro de filologia na mão. É para usar o português corretamente.”
“Que bom professor. Eu estava preocupado. Já pensou se a gente aprova esse plano e depois esse gênero destrói a família de nossa cidade. O pastor não gosta mas eu tenho duas famílias. Ainda bem que nem todos os eleitores sabem disso. Mas sabe como é né? A gente vai futricando aqui e ali e as coisas acontecem.”
Que hipocrisia. Que ignorância. Que analfabetismo. Mas a vida é assim, temos os legisladores que elegemos.
“Que bom não é professor. Conversando a gente entende. Que bom que o senhor explicou tudo. Mas professor estou indo porque ainda tenho um velório para ir. Você sabe né? Se vereador não vai a velório pega mal.”
Ele se despediu e foi. Ainda bem. Espero que a história do filólogo o tenha convencido. Ou ele por não saber o que é um filólogo, ficou com vergonha de dizer e aceitou sem questionar. Fiquei indignado e imaginando que pessoas votam num analfabeto para ser legislador. Para aliviar a indignação e raiva, tomei uma cerveja e fui embora.
Valter Figueira

Professor, poeta e prosador. Reside em Carlinda-MT.

22.1.16

dor


Dor

Queria ser poeta
para fingir que não é dor
a dor que sinto.
A dor da impotência
diante de um mundo que quer
respostas urgentes aos seus problemas,
A dor da perca da senilidade
diante tantas ocasiões de erros e acertos.
Vou fingir que não é dor
a dor que sinto
para que o caminhar seja menos penoso,
para que as lágrimas não caiam.
Vou fingir que não é dor a dor que sinto.