11.6.15

A arte de voar


Quando eu tinha 10 anos eu desenvolvi a capacidade de voar. Principalmente nas madrugadas durante o sono REM, aquele mais profundo em que os sonhos parecem realidade de tão nítidos. Mesmo sendo noite ao voar tudo parecia tão claro como o dia, e eu poderia ver acima das casas e das árvores. Eu subia na cumeeira da casa, coisa que não entendia como subia até lá. Acho que dava um salto, igual ao super homem, me ajeitava no telhado e começava o voo. Como era gostoso sentir a brisa fresca no rosto. Acho que o super homem nunca aproveitou o toque suave da brisa em seu rosto, ele sempre voava rápido. Eu não, aproveitava bem a visão que tinha observando bem os detalhes. O interessante é que não precisava bater os braços como asas ou como se estivesse afundando num rio. Eu simplesmente flutuava. Flutuei pela cidade toda observando e os telhados, os quintais, as mangueiras e as jaqueiras. Era engraçado, apesar de ser de dia eu não encontrava pessoas nas ruas, acho que nesse momento todos paravam e entravam em casa, talvez tinha algo mais forte que o obrigavam a isso. Eu queria que as pessoas vissem. Eu queria que percebessem que eu estava flutuando para depois contar vantagem que eu era o único que voava naquela cidade. Poderia ter outros em outros lugares, mas ali era apenas eu. É uma pena, que não tive testemunha e que não pude provar para ninguém as minhas aventuras voadoras. O tempo passou, cresci e fui perdendo a capacidade de voar. Hoje minhas madrugadas são preenchidas por pesadelos.