30.12.09

SONHOS


Não te aflijas a escuridão passará.

Se teus olhos não conseguem ver a luz
é porque ela ainda não nasceu.
Quero ser só, para ficar a sós com
meus versos e ouvir o murmúrio de minha alma.
Quero desfazer o tédio, as mágoas e o cansaço,
caminhar sem ter que arrumar a cama.
Ficarei com meus versos.
E quando o sono eterno chegar
Repousarei com eles.

Valter Figueira (do Livro POESIA, 1995)

29.12.09

Beijo e abraço

Afoguei meu beijo

em sua saliva doce,
testemunhei lágrimas rolarem
do brilho de seu olhar,
gravei no fundo do meu ego o
som melódico-ressonante de sua voz,
atenuei o sexto sentido para que deixasse
você ser a primeira:
A primeira dança:
Criança.
A primeira paixão:
Canção.
O primeiro e único amor,
sem perder,
sem esconder,
simplesmente amor,
sem deixar morrer.

Valter Figueira

28.12.09

TEM PÃO VELHO ?

Com esse título, recebi hoje uma mensagem que me foi passada por uma pessoa muito amiga, contando uma história narrada por alguém que a viveu.

Conta a história (ou estória, não vem ao caso) que um garoto se aproximou dela, pedindo pão velho. Ao invés de simplesmente dar-lhe o pão, resolveu conversar com o garoto, perguntando coisas sobre sua vida, onde morava, como vivia, e assim por diante, terminando por perguntar se ele não preferiria pão novo ao invés de velho e este, ao ser-lhe oferecido o pão, recusou-o simplesmente, dizendo: não precisa, dona, a senhora já conversou comigo...

Isso forçosamente nos leva a algumas reflexões, pois mostra a necessidade imperiosa que existe de um simples diálogo.

Quantas vezes uma pessoa chega perto de outra, sentindo uma tremenda necessidade de conversar, de desabafar alguma coisa que lhe corrói as entranhas. Se o interlocutor lhe dá alguma atenção, ao menos ouve suas palavras, já fica aliviada, já representa algo de muito importante.

Quantas vezes um relacionamento termina por falta de diálogo... Chega a ser um absurdo que isso ainda aconteça em plena Era das Comunicações. Parece que as pessoas estão se esquecendo quão importante é trocar idéias. Muitas desinteligências sérias poderiam ter sido resolvidas com uma simples conversa. Que não houve. Por causa disso, foi criada uma desavença.

Sempre que surgirem dúvidas, é muito mais válido procurar-se a outra pessoa, afim de dirimi-la. É como uma doença. Quanto mais cedo começar-se o tratamento, mais fácil conseguir a cura.

A coisa é válida para os dois lados, por isso se chama diálogo. Um deve saber procurar o outro para buscar uma explicação. Por seu lado, o outro deve saber que lhe cabe explicar alguma coisa e deve atender ao primeiro. Nesse entendimento fatalmente será encontrada uma solução, ou não. Mas pelo menos não ficarão dúvidas pairando no ar.

Outro ponto a ser abordado, é a necessidade que estamos vendo nos dias de hoje que as pessoas estão enfrentando pela falta de diálogo e conversa. Cada qual se fecha em seu mundinho, e que o resto do mundo se dane. O que é feito do espírito de solidariedade? Muitas vezes o simples fato de ouvir-se alguém já representa um grande alívio... se mostrarmos interesse, e procurarmos um diálogo, então poderá ser por vezes a salvação de uma vida. Quem não já ouviu falar do CVV? Então...

Devemos estar sempre atentos aos "pedidos de pão velho". Quando um amigo se aproximar, "querendo uma conversa", vamos procurar ouvi-lo. Talvez esteja sendo um pedido de socorro. Uma simples necessidade de desabafo, ou talvez uma problema mais sério para o qual ele não esteja encontrando solução.

Seu filho (a) brigou com a namorada (o)... vamos ouvir seu desabafo, sua conversa. Vamos colaborar para seu alívio interior. Seu amigo (a) perdeu o emprego, ao invés de um simples "dar de ombros" e do célebre "quiqui eu tenho a vê com isso", vamos procurar dizer alguma palavra de estímulo, nem que seja o inefável "isto passa".

Alguns poucos minutos que se perca ouvindo alguém, podem ser muito importantes para esse alguém, e acabarão sendo para você também. Você vai notar que, depois de colaborar para uma melhoria no estado de espírito de outra pessoa, você vai se sentir muito melhor. Seu espírito agradecerá seu ato humanitário. Nunca se esqueça de que amanhã você poderá estar na fossa, e vai gostar muito se alguém lhe abrir os ouvidos, os braços e o coração.

Não custa nada atender a um pedido de "pão velho", e representa sempre muito para alguém, estejam certos disso.

O Amigão nos deu o dom da palavra justamente por isso, para dialogarmos, só que ultimamente andam interpretando de outra maneira, que para nos digladiarmos. As palavras são parecidas, mas de significado completamente diferentes.

Como o caso das duas crianças brigando, chegando depois à conclusão de que sua mãe lhes houvera dito que "se amassem", e não que "se amassassem".

Muitas vezes isso significa: Tenho necessidade de ser ouvido, de ser amado.

Falando nisso, meus amigos, VOCÊS TEM PÃO VELHO AÍ?

Marcial Salaverry

CRôNICA DO AMOR

     Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

     O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
     Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.
     Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
     Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
     Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.
     Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam.
     Então?
     Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
     Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.
     Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?
     Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.
     É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.
     Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?
     Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
     Não funciona assim.
     Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.
     Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!
     Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

Arnaldo Jabor

26.12.09

PAZ


Paz é não ficar preocupado com o mal comportamento das pessoas.



Se alguém faz algo errado é porque está perturbado internamente.


A sua paz vai fazer muito bem a ele. Ser pacífico não é ser passivo.


A paz é muito ativa, ela destrói a perturbação.


Para ser pacífico tudo que preciso fazer é me esvaziar do inútil e do negativo.


Esse é o maior presente que o mundo pode receber de mim.

Denise Lawrence
"Não ame pela beleza, pois um dia ela acaba. Não ame por admiração, pois um dia terá uma desilusão. Ame apenas, pois o tempo nunca poderá acabar com um amor sem explicação"




(Madre Teresa de Calcutá)

17.12.09

Aquele que conhece os homens é sábio;


Aquele que conhece a si mesmo é iluminado.

Aquele que supera os outros é forte;

Aquele que supera a si mesmo é poderoso.

Aquele que é feliz com o que tem é rico;

Aquele que age com determinação tem força de vontade.

Aquele que mantém sua posição resistirá por muito tempo;

Aquele que mantém sua influência viverá além da morte.

Tao Te Ching,33

1.12.09

Quero um beijo

Ainda dá tempo de amar. Ainda é tempo de amor. O tempo pode passar. O vento varre nossos passos. O sol abrasa nossos abraços. A saudade une nossos beijos. O vento leva nossas súplicas. O tempo apaga nossas pegadas. O sol aqueçe nossos braços. A saudade une nossos corpos. O ar falta. O coração dispara. A cabeça lateja. Um beijo. Só um beijo. Por favor um beijo.

30.11.09

Meu Coração

Não me abandone... não me deixe para trás.. meu coração já pulsa com dificuldades, num canto qualquer. Num canto qualquer.

Solidão

A solidão é tão necessária como uma boa alimentação. Pensar, refletir para tomar as decisões certas. Mas quais são as boas estradas? Por qual caminho devemos percorrer? Pare... um momento... pense....inspira o ar puro da noite gelada. Acima de tudo ame.

20.11.09

Partida

Preciso partir para recomeçar
preciso de um orvalho
preciso chorar
como choram as flores
sem dores


18.11.09


Adoro flores...
Elas sempre estão nos dizendo algo.
As vezes entendemos o que as flores dizem
Eu queria entender o que uma flor diz
talvez assim eu seria mais feliz.

10.11.09

As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Carlos Drumond de Andrade

9.11.09

Segredo


Caminhamos por vias tortas, sem brilhos,

que nos levam a lugares certos.

voamos por mares bravios

que nos levam aos sonhos.

Caminhamos sem rumo e com medo.

Caminhamos cegos pelos cantos da saudade

e quando chegamos,

temos a certeza que é hora de partir.

Pertimos sem sombra e receosos

que paixões nos trarão feridas

mas nos apaixonamos.

8.11.09

Caminhante


Caminho pela rua

procurando um abrigo

para minha sombra,

ficarei sob o sol e a chuva

prestando constas ao meu ego.


Caminharei pela rua

enquanto procuro uma sombra

para meu ego

ficarei sob o sol e chuva

satisfazendo meu abrigo


caminharei por minha sombra

enquanto procuro um ego

para meu abrigo

permanecerei sob o sol e chuva

satisfazendo minha rua.

2.11.09

Você


Você é uma flor entre tantas
e como tantas me confunde
procuro-te no meio de um jardim florido
procuro-te no meio de aromas infinitos.
Vocé é uma flor...
única flor...
minha flor.

O caminho

Sempre há um caminho a percorrer;
Qual é o seu caminho?
Qual é o nosso caminho?

Por quais caminhos percorremos?
Por que sempre nos encontramos?
Mostre-me o melhor caminho,
que eu lhe mostro minha caminhada.
Mostre-me o seu caminho,
que eu lhe mostro a poeira da minha estrada.

1.11.09

A porta



Todos temos uma porta:
Estou procurando a minha
e assim com o Santo Graal,
ela seja a menos valorizada,
esta de madeira quase morta
A porta.


O tempo passa....
passa tempo
tempo passa
passatempo
a saudade vem
as pessoas vão.

15.10.09

vandalismo

Essa é a situação de uma das salas da Escola Manoel Bandeira depois de alojar estudantes de outros muncípios que participaram de um evento em Carlinda. Ainda bem que são apenas estudantes.

13.10.09

Soneto da esperança I

Não quero viver sobre os escombros,
Nem sob as nuvens negras do ódio,
Quero ter a luz irradiante da certeza,
E ver o certo vencer o errado,

Não quero viver sobre destroços,
Nem sob as sombras da mentira,
Quero brilhar com brilho próprio,
E ver a injustiça ser vencida,

Não quero ouvir a música da discórdia,
Nem quero sentir o cheiro de enxofre,
Ao queimar as esperanças dos inocentes,

Quero ter a certeza que o amor vencerá,
Quero amar para vencer as batalhas,
Dos meus dias, da eternidade. Sempre.

O futuro

Parecia ser a lua no ocidente
Mas o ocidente era o oposto
O fervilhar das nuvens negras
E a escuridão inquieta do céu.

Parecia ser uma estrela cadente
Ou a decadência, declínio previsto
Do amor ao próximo apenas lembranças
Viver, correr, sorrir já eram saudades.

Parecia um correto ser humano
Mas a humanidade era fóssil
Com o seu raciocínio incomparável
Destruiu o mundo e a si próprio.

Parecia ser o bondoso Deus
Mas era uma divina fase triste
Tentando entender porque criou
A raça humana.

5.10.09

Há um em cada um

Há uma arma em cada esquina
E uma bomba em cada lar.
Há um sentimento que apodrece
E esses podres são escondidos.
Há um dia em cada noite
E um abismo em cada dia.

Há um grito que sai do nada
Há nada em seu coração.
Há um choro em cada olhar
E uma lágrima em cada sorriso.
Há um esquecimento em cada lembrança
E as lembranças não fazem o futuro.

Há uma vida em cada esquina
E uma alegria em cada lar.
Há um filho rebelde sorrindo
E um pais frustrado chorando
Há uma gargalhada do filho em cada ato
E uma lágrima do pai em cada olhar.

Há um desespero em cada desastre
E um desastre em cada fúria.
Há um temor em cada grito
E um medo de horrores em cada passo.

Há uma arma em cada esquina
E uma bomba em cada lar.
Há uma desordem em cada rua
E uma morte em cada bar.

A felicidade Está

A Felicidade

A felicidade está....
Está no coração de cada ser humano que
Vive,

Sonha,

Luta,

Vence.

A verdadeira felicidade está....
Está na alma de cada pessoa que,
Vive e deixa viver,
Luta para que outros vivam,
Vence os obstáculos das diferenças sociais,
Sonha com um mundo harmonioso.

A Felicidade está.....
Está na consciência de cada indivíduo que
Faz o bem sem olhar a quem,
Não mede esforços quando
O objetivo é fazer o próximo feliz.
A verdadeira felicidade está...
Está na realização do maior de nossos sonhos,
Que é fazer feliz o maior número de pessoas possível.

“ A verdadeira felicidade está em ajudar ao próximo.”

21.9.09

Felicidade eterna?


A felicidade é algo muito subjetivo. Todos a buscam, mas poucos a encontram. Como se define a felicidade? Como podemos saber que estamos nos sentindo felizes?
Algumas pessoas precisam de um aperto de mão amigo, de uma palavra de consolo. Com isso, estão felizes.
Outras, contudo, para estar felizes são mais exigentes. Querem luxo, saldo bancário com muitos zeros. Quando conseguem, querem mais. Usam como argumento, uma frase muito interessante e lógica: O dinheiro não traz a felicidade...manda buscar. O que nem sempre é verdade, porque nem sempre o dinheiro consegue trazer o bem estar interior, condição sine qua non para ser-se feliz.
Já teve alguém que me disse que para ser feliz, só queria ter saúde... e que seu dinheiro todo não conseguiu trazê-la.
Li um pensamento muito interessante, cujo autor desconheço (é tão inteligente, que poderia ser meu...). Vejam: Felicidade plena não existe... a vida é feita de uma sucessão de momentos felizes... e infelizes também.
Realmente, nunca podemos nos considerar totalmente felizes. Sempre existe uma "peninha" para atrapalhar. Aliás, é nisso que está o gosto pela vida. Sempre temos que lutar por algum objetivo que, uma vez alcançado, serve de trampolim para outro.
O perigo está em julgar que "chegamos lá". Pronto. Objetivo alcançado. Agora é só procurar um "barranco e morrer encostado".
Aí é que a "ruminante fêmea dirige-se à região pantanosa". A pessoa sem objetivos, entra em depressão, e começa a julgar-se um inútil. Paradoxal, não? Consegue realizar tudo o que sonhou, e entra em depressão por causa disso. Enfim... coisas da natureza humana...
O que devemos fazer é aproveitar tudo o que de bom a vida nos oferece, enquanto podemos aproveitar. Paralelamente, temos que saber aceitar os revezes que nos cruzam o caminho, sem mágoas ou revolta. Não esquecendo que SÓ felicidade atrapalha, pois nos tira a vontade de lutar, além de nos dar a falsa impressão de que TUDO podemos.
Sempre temos que ter algum objetivo na vida. É nessa vontade lutar, de viver, que existe a verdadeira felicidade. É nessa capacidade de aceitar tudo o que de bom e de ruim a vida nos oferece, que se pode dizer: SOU FELIZ. E, principalmente, é adquirindo-se a certeza de que as coisas que nos acontecem obedecem a diretrizes de Alguém, é que se consegue realmente enxergar a FELICIDADE.
Como superar os momentos infelizes? Tendo no seu interior a certeza de que esses azares são simplesmente uma questão temporal, algo que surgiu somente para testar sua força de vontade, sua capacidade em superar adversidades. Aí sim, você poderá saber se merece ou não ter mais momentos felizes do que infelizes, porque estes também são inevitáveis. Já dizia um velho provérbio: não há bem que sempre dure, e nem mal que nunca se acabe. Parece uma bobaginha, mas não é. Temos que estar sempre preparados para tudo, e não só para os bons momentos.
E o ponto principal... o requisito básico para que se alcance, se não a felicidade, pelo menos o bem estar interior, que é o primeiro passo para ser-se feliz, é preciso gostar-se.
Sem esse pequeno detalhe, nada feito.
Se você não conseguir gostar de si próprio, não poderá gostar do mundo.
Não gostando do mundo, não poderá estar bem nele.
Assim sendo... sinto muito, mas o que você está fazendo aqui?
Só atrapalhando quem quer viver...


Marcial Salaverry

10.7.09

TRISTÃO E IZOLDA


Sou o Tristão,
e espero na praia umbria,
seu sorriso de acalento,
seu olhar de penumbra
a chamar de meu amor.

Ainda espero que esqueça,
os desejos da carne,
e ouça o gemido de
meu mortal coração
que sangra mortalmente,
ferido por seu olhar de desprezo.

Ainda hei de gritar ao mundo:
És minha Izolda reencontrada
que perdeu-se num engano,
nas arestas da vida,
nas vertentes do destino,
na aba de um pseudoamor!

Ainda ouvirei o grito de muitos:
És o Tristão, que ama e idolatra
a solitária Izolda que o despreza
e maltrata.
Ainda espero na praia solitária
sua bandeira branca.

28.6.09

PARECE QUE FOI ONTEM

Fui pai de nada, esposo da brisa e amante
desolado de causas insolúveis.

Depois de cada cidade que percorri
vendendo saudades imperfeitas,
vendendo melodias nuas,
entre lábios que partem
sobre o gesto vacilante da brisa,
Sucumbi de amor e entreguei-me
ao delírio.


Nas tardes infantis aparecem
perfeitas recordações lacrimosas,
dos jogos que não joguei
nos espaços de sólidas madeiras
entre beijos contínuos,
como um rio em flor.
Na pureza das palavras e
na loucura do silêncio.

Desejo fluir no azul da ausência
numa combinação de rubis e esmeraldas.
Na liberdade do vento.
Como se fosse ontem.

13.6.09

Poemas em Homenagem a Carlinda-MT

Hino a Carlinda

Nas margens do Rio Telles Pires
Nasce o sonho de um povo que bendiz,
E da luta árdua, franca e gloriosa,
Surgiu Carlinda pequena, bela e feliz.

Sua história é de luta, força e paz
Seu solo fértil o progresso produz
Belezas e riquezas que retomam
O caminho e ao futuro nos conduz.

O riacho que lhe emprestou o nome
Traz o símbolo de vida, esperança e fervor,
É mulher, mãe gentil e a seus filhos
Dedica sempre: carinho e amor.

Algo de novo no norte desponta
O comentário de um dito colosso
Que procuram e todos apontam
Como grande orgulho de mato grosso

É Carlinda, que harmoniosamente cresce
É Carlinda, hospitaleira mãe gentil
É uma estrela que brilha forte
No céu do Brasil.


Valter Figueira


Carlinda

As vagas borboletas de mil cores
Avisa o capitão e ao seu intento
Da lida escolhida entre os amores
A Carlinda amada de seu aposento.

O rio que calmo lhe diria
Da amada cordial a relembrar
De seu olhar, do amor de seu dia
Do nascimento um rio a festejar

Foi assim: por amor e carinho
Que nasceu em meio a mata afã
A vergar o progresso no caminho
Da natureza inda mais louçã.

De povoado a cidade hospitaleira
Dos filhos que adotam no coração
E as benesses que te deu a natureza
Fazem-se orgulhosos deste torrão.

As navegar pelo rio São Manoel
Na calmaria ladeado de verdores
Surge sorridente ao arrebol: Carlinda
A princesa, recanto dos pássaros tenores

Telles Pires, capitão sonhador meticuloso
Ao percorrer caminhos verdejantes
Encontrou a encantada paz desejada
No Rio Piratininga de antes.

Carlinda de sonhos e desejos
Progressistas de seus habitantes
Hoje festeja com seus filhos
Os frutos de sua terra tão pujante.

Valter Figueira

7.6.09

O Jogo - do livro A Morte do Xerife




Fazia quinze minutos que o jogo começou e os ânimos já tinham ultrapassados os limites normais. A raiva e o ódio invadia a cabeça pequena e cheia de leis do pequeno doutor. Tinha acabado de cursar a faculdade, cinco anos de sofrimento. Agora se sentia imune e um insulto como aquele merecia uma resposta à altura. O lance, conhecido como carrinho, o derrubou acabando por perder a bola. Não é nada. É um jogo entre amigos. Mas não sabe porque, uma grande sede de vingança soou alto em seu subconsciente, não reagiria, não poderia. Haverá outra oportunidade e então...
A alegria foi total, quando numa jogada quase impossível, marcou o gol. Todos o cumprimentaram. Sente uma ponta de felicidade. Finalmente sente-se útil naquele lugar em que até agora era um mero visitante, apesar de ser seu berço natal.
No intervalo a confraternização era geral, animados todos já afirmavam ter ganho o jogo. Assim sorridentes partiram para o segundo tempo. A idéia de vingança quase tinha se apagado de sua memória, quando num lance topa novamente com o sujeito e este avançava. Era o último homem, se não segurasse ele ficaria cara a cara com o goleiro e certamente marcaria o gol. O único jeito era derrubar, cometer uma falta. Alguém no banco de reserva que estava atento a jogada gritou: "Mata a jogada", pensou e decidiu fazer isso mesmo. Além de não permitir que o outro marcasse o gol, poderia vingar-se. Então num lance bruto foi com os dois pés na perna do atacante que saiu esbravejando dizendo que era um bruto e não sabia jogar. Foram aquelas palavras que soaram como um grave insulto a sua índole de advogado recém formado. Irado foi até o outro que continuava sentado no gramado se preparando para levantar, sem dizer nada, desferiu um forte chute na região da mandíbula próxima ao pescoço, que o indivíduo não agüentou e caiu inerte.
Advogado recém formado, imune como se dizia, não poderia deixar que alguém o insultasse. Virou-se e foi embora gritando que não jogaria mais. Ninguém prestou atenção no que ele dizia. E também ninguém ia continuar jogando pois o rapaz acabava de falecer. Talvez não tenha aprendido na faculdade que só pelo fato de ser advogado não era imune, ou talvez não tenha entendido direito quando lhe disseram para matar a jogada e não o jogador.

Texto retirado do Blog: Lingua de Mariposa

O ESFANDRO E A BORBOLETA

Quando ganhei esse livro, em 2001, vivia no Brasil, estava me recuperando de uma depressão e minha mãe estava desaparecida em si mesma, numa enfermidade carnívora. Uma doença que vai tirando da pessoa tudo que é dela, até suas lembranças mais viscerais. Depois ela transforma a pessoa em uma casca vazia, só mata depois que destroi tudo.Quando soube que o livro contava a história de um jornalista francês que havia sofrido um acidente cerebral e que havia escrito o relato piscando um olho para as letras do alfabeto que uma enfermeira lhe mostrava, não tive coragem nem de abri-lo.Guardei o presente para ler em outra época. Eu estava tão fragmentada ainda. Tinha um medo horrível de entrar no túnel escuro da tristeza sem nome... precisava cuidar mais das minhas emoções e tinha consciência da fragilidade da minha saúde afetiva.Aliás, essa foi uma aprendizagem da época. Aprendi a cuidar mais de mim. Aprendi a perceber quando estou mais sensível, mais vulnerável... e evitar expor-me a sensações muito fortes.Mas... um dia desses, arrumando as novas estantes da casa, encontrei o livro. Li a dedicatória carinhosa da amiga brasileira e criei coragem, abri a primeira página e comecei a ler. E não parei mais até que o terminei. Li de um só fôlego.Foi fantástico ver o mundo através de sua experiência. Uma hora com humor, outra emudecida pela impotência, outra ainda entre lágrimas de saudades das coisas mais simples, como estender a mão e fazer uma carícia...
Vou contar um pouco a história.
Jean Dominique Bauby, um jornalista francês, bem sucedido, jovem pai de dois filhos e cheio de energia, sofreu um acidente vascular cerebral com pouco mais de quarenta anos, entrou em coma e quando saiu deste estado percebeu que sua mente estava quase intacta... mas o único que havia perdido era a conexão com seu próprio corpo. Estava completamente paralisado, numa síndrome chamada "locked-in", que significa "trancado em si mesmo". Não podia mexer-se, comer, falar, nem sequer respirar sem ajuda de uma máquina. Apenas um olho se mexia. Ele piscava. Uma vez para dizer sim e duas para dizer não.

Com esse único movimento físico ele decidiu se comunicar com o mundo, seus filhos e seus amigos e contar que estava vivo, que pensava sair daquela prisão e queria que soubessem o que ele sentia lá dentro de sua cabeça e de seu coração. Para isso ia piscando e indicando as letras que iriam formar as palavras e frases de um livro espetacular de 140 páginas.Emocionada, fiquei me lembrando dos monólogos que tive com a Princesa, durante seu último ano de vida, desejando que dentro dela estivesse escondida a mulher que ela era. Recordei as histórias que eu lhe contava, as músicas que cantava, as sinfonias e concertos que fazia tocar no som de seu quarto, baixinho, para que pudesse escutá-las mais uma vez. Às vezes eu tinha a impressão que algo em sua expressão mudava... Era só uma impressão?Talvez.
Aprendi muito sobre a vida com a morte da minha mãe. Eu já disse muitas vezes e vou repetir, minha mãe me pariu outra vez quando morreu.Não quero que isso seja visto apenas como um drama particular, embora sua morte tenha sido dramática para mim. Estou falando de como reaprendi a viver. Estou falando de aprender a dar o valor real à vida e tomar consciência de sua fugacidade. Aprender a valorizar a memória, a imaginação, a capacidade para mover-se, ler um livro, escutar uma música, abraçar um filho, um amigo. Aprender a valorar mais as relações e menos as coisas. Agora. Enquanto é possível.
Estou falando em ter consciência disso on line, durante a ação. Saber que este é um privilégio que algumas pessoas perderam num segundo... e que a gente não tem sequer a noção do que significa essa perda.
Bauby também ensina os verdadeiros valores da vida desde sua prisão - seu corpo - um escafandro, como ele o chama... e de sua alma, a borboleta com a qual ele voa, visita seus filhos, viaja pela Paris que adora, toca e beija seus queridos...
É impossível ser o mesmo depois de ler seu livro. Não é ficção, é real. Aconteceu de verdade... Só não reflete e aprende quem for impermeável.Descobri, cafufando a Internet, que rodaram um filme em 2007 que foi indicado a 4 Oscars. Como assim? E eu não vi!Pois sim. Em 2007 eu estava vivendo lá no meu monte, longe de... quase tudo. Aposto que ele não passou no pequeno cinema da praça de Los Santos Niños, em Alcalá de Henares.
Li algumas críticas excelentes. Vou tentar encontrá-lo em uma locadora por aqui por perto. O diretor é o mesmo de Antes do Anoitecer, um de meus filmes queridos, e trata o tema com delicadeza, fugindo do dramalhão piegas hollywoodiano em que se transformam excelentes livros.
E sou fã do cinema francês.
Mas um para minha extensa lista de perdidos...
(Le Escaphandre et le Papillon - França / EUA, 2007 / Brasil 2008 - 112 min)
Direção: Julian Schnabel.
Roteiro: Ronald Harwood adaptando livro de Jean-Dominique Bauby.
Elenco: Mathieu Amalric, Emmanuelle Seigner, Marie-Josée Croze, Anne Consigny, Max von Sydow, Marina Hands, Isaach De Bankolé.
Gênero: Drama, Biografia.

Texto Escrito por: Nora Borges www.verbeat.org/blogs/linguademariposa/

3.6.09

Lia

Quero retornar a minha sina,
áquela menina que dedicou-me um beijo.
Quero retornar ao tempo de Lia,
na esquina reencontrar o seu olhar,
retornar ao beijo apaixonado
e desejo quase proibido.
Quero retornar as tardes frias,
as noites geladas,
a fogueira de São João.
Quero retornar a mocidade,
ao canto da cidade,
ao meu portão.
Quero retornar o tempo de Lia,
Amar escondido a Lia.
Ter a Lia sem medo e pudor.
Que pena: Lia passou, eu passei
fiquei perdido no tempo.
Perdi as contas dos janeiros
das paixões e dos amores.
Perdi a mocidade,
perdi a vaidade na janela de Lia.


Te amarei

Te amarei eternamente,
eternamente enquanto durar nossas vidas,
ou nossos encantos.
Te amarei,
mesmo estando distante,
mesmo estando ausente.
Mesmo sem contatos
nossos corpos se encontram,
se encontram e se descobrem.
Te amarei na ausência,
na distância,
nas flores que ilustram,
no poema que tece,
na voz que entoa
hinos de louvor.
Te amarei
nos riscos curvos
de uma história sem fim.
Te amarei eternamente.

2.6.09

Como é bom ser jovem


As quatro enxadas



Zé estava ciente que tinha que sair de casa mais cedo possível para procurar serviço. Irritado, não é de agora que o mundo vem prevendo uma escassez. O plantio de café está acabando. Culpa de quem? Do governo que não cuida desse povo miserável que passa fome? E por falar em fome sua reserva de mantimentos está no fim. Ainda bem que a mulher tem leite nos peitos par dar sustento ao guri. Mas se ela não comer o leite acaba. Logo agora que tem um pequeno de três meses em casa o ex-patrão resolve trocar o cafezal por pasto. Não vai ter lugar para todos, disse ele, e então foi dispensado. Dispensou todos. Só a família do dono dava conta de cuidar do gado.
Ainda bem que o compadre João emprestou meia-água nos fundos para passar uns tempos. Quem sabe Zé vire bóia-fria e suba no primeiro caminhão que parecer na vila. Mas lá também estão dispensando trabalhadores. Os seus pertences são poucos. O de mais valia era o berço do neném, não é novo foi oferecido por uma família amiga, não teria mais serventia, as crianças cresceram.
Há uma informação que na fazenda do Sr. Fabriciano, uma boa caminhada da vila, estão precisando de uma família para serviços de enxadas. Zé foi, saiu antes do sol apontar no horizonte. Levava no embornal um marmita com pouca coisa: mandioca cozida, arroz e dois ovos fritos, acredita que não dá tempo de voltar até a hora do almoço. Água não levou, deve ter riacho pelo caminho. E depois o povo da roça nunca nega água para quem tem sede. Foi caminhando, cruzando estradas e trilhas. Cafezais e pastos, estes muitos maiores, aqueles já se acabando. Dá dó ver os cafezais morrendo. Já vai longe o tempo da fartura do café quando tinha serviço para todos. Ou melhor, todos que tinham coragem de trabalhar. Chorar não é bom, trabalhar é preciso para se viver e serviço terá. Chegando na fazenda foi logo questionando pelo Fabriciano, procura daqui, descansa dali, refresca ademais na sombra duma mangueira. Que bom se a vida fosse só sombra e água fresca. Até que enfim a entrevista com o Sr. Fabriciano, homem bom, matuto, mineiro de Uberaba, distante de um fazendeiro arrogante e cheio de si. Rico sim, mas trabalha na roça com os subordinados. O homem é bom, está disposto a empregar. A primeira pergunta de Fabriciano para o Zé foi: Quantas enxadas o Sr. tem? Prontamente e sem titubear, na lata, o Zé respondeu: Quatro! No que diante da resposta o Sr. Fabriciano disse ao Zé que poderia ocupar uma casa da colônia, a última na beira do cafezal está vaga.
Zé, todo faceiro mudou no Domingo. Vai trabalhar, ganhar dinheiro, dar sustento para a família e talvez sobre dinheiro para substituir sua botina rota, já rasgando. Teve cuidado especial com as enxadas, amolou-as, passou lixa e vela nos cabos.
Na segunda feira esperava as ordens, chega o Sr. Fabriciano à cavalo. Cavalo branco, chapéu marrom, esporas prateadas, agora parece mais com fazendeiro, garboso, cheiro de si. Foi logo perguntando pela família. Zé orgulhoso, mostra porta da casa, lá estava a mulher com o guri no colo. Fabriciano não acredita que houve um mal entendido. Olha para o outro lado da parede e lá estão quatro enxadas prontas para o trabalho. Esse pessoal da cidade não entende, resmungou Fabriciano, quando voltava com as ordens já encomendadas ao Zé. Será que Fabriciano, o mineiro em terra Paranaense falou mineirês? Quando perguntou ao então candidato a emprego quantas enxadas tinha na família, ele na verdade queria dizer, quantas pessoas estão aptas a trabalhar, e não o número de ferramentas.
O Zé continuou trabalhando sem saber do engano que cometera. O fazendeiro, com gestos de matuto, entendeu que o Zé não mentiu e nem enganou, queria serviço e teve serviço. Fabriciano resmungou consigo mesmo: Um dia ele descobrirá o engano.

























16.5.09

Voo Noturno

Levanto voo,
percorro lugares proibidos,
pessoas e atos proibidos,
descubro segredos impensáveis e assusto.
Me vejo no fogo e na chuva,
ardo em chamas, me afogo,
sou espião da noite, sou espião da morte.
Levo notícias dos monges,
monto farsa e falseio a verdade.
Pinto de preto minha clava, sou rebelde,
inquieto, infestado pelo vírus da paixão.
Amo o errado: o torto, o tonto e a fantasia.
Amo o certo, o sonho, a vida e Deus.
Sou o ego e o eco. O sim e o não.
Suporte e flecha, veto e freio.
Vago na escuridão a procura de luz.
Procuro sombras e nelas refugio.
Sou sombra pequena, não ofereço alento,
nem esconderijo.
Sou tema, sou rijo.
Sou choro, sou riso.
Sou alfa e ômega,
o yin e yang, paz e guerra,
seta e cruz, venda e luz, vela e sopro.
Aterrizo, acordo, continuo a vida simples
de sempre.

É NATAL


O sol apregoava a costa de Zozé ali emborcado catando as maçãs de algodão que relavam no chão. Estão úmidas, vão render mais no peso. Zozé não levanta já faz quase vinte minutos. Suas costelas danam a doer, é sinal dos tempos que estão passando. O peso da idade judia da gente, não rende mais.
Será que vai chover Zozé?
Vai não, hoje você vai ter que mijar no fardo.
Eles desconfiam Zozé!
O sol estava a pino, longe via-se uma manada de nuvens negras se achegando e se acomodando para juntar chuva.
À tarde, depois da bóia chove Zozé.
Cê num é adivinhadô!
Não é advinhadô Zozé, é adivinho.
Se qué ensiná, vai ser professor e não catadô de algodão!
Calma Zozé, eu apenas quis ajudar. Nós estamos tudo na merda mesmo. Amanhã é Natal você sabia Zozé?
E daí? Você vai chamar o papai Noel? Lá em casa não tem dessas coisas não.
Zozé sempre viveu e acredita que sempre viverá da roça. Mas essa roça de hoje não é como a de antigamente. No seu tempo de homem moço, forte, raçudo, era meeiro, morava na colônia, tomava água da mina e banho no riacho. Agora tudo é difícil, tem que pagar aluguel, pagar água, pagar luz, o dinheiro que tira não dá para nada. Nunca imaginou que teria de trabalhar duro até véspera de Natal. Para ele Natal nunca foi grande coisa, tinha as rezas, as novenas nos sítios vizinhos. Na cidade não, o povo enche a cara. Tá todo mundo querendo beber e ficar incomodando os que querem paz.
Zozé! Você tem carne no almoço hoje?
Que nada! Só tem um zoião mesmo.
A carne é rara, aparece mais nos discursos utópicos dos sonhadores comedores de zoião. O ovo frito, que outrora era a esperança da continuação das galináceas, torna-se esperança de vida e alimento dos desesperados catadores de riqueza.
Zozé! Um dia ainda vou ficar rico, você vai ver. Vou ajudar toda esse gente pobre que precisa trabalhar na véspera de Natal.
É bom você trabalhar, senão nem para comer amanhã você tem. Deixa para sonhar de noite.
As bolas de algodão verdes incitavam a imaginação de Zozé, parecem bolinhas das árvores de natal. Zozé não entendia por que ele não encontrou ainda no mato uma árvore igual aquela. É pinheiro, disse certa vez dona Nina, não tem no mato. Porque será que não usam uma árvore fácil de encontrar? Como a mangueira? Ou jabuticabeira? Que são mais bonitas?
Zozé! Você sabe o que o pessoal vai fazer hoje a meia noite?
É a missa do Galo?
Zozé!! Oh Zozé!! Acorda homem de Deus. Será que não lembra que a Missa do Galo é na Sexta-Feira Santa?
Ah é?! Achei que era na Missa do Galo que aparecia o papai Noel, como o Galo não canta ele não aparece. E aonde é que ele aparece que eu nunca vi um de verdade?
Para Zozé, todos os que ele encontrou fantasiados de velhinhos vermelhos, eram na verdade personagens disfarçados de Papai Noel. Seu pai como não podia presentear a prole de 10 filhos, contou-lhe a verdade muito cedo. Assim, aprendeu na vida a diferenciar sonhos de realidade. Os Natais eram sempre iguais, e Zozé sabia que tinha que se esforçar para não ser alienado pela propaganda. Ou seria sentir inveja? Não! Zozé não era invejoso. Seu pai ensinou todos a conformarem com a situação, e pelo menos trabalhar para não passar fome. O Natal não coloca comida na mesa, não paga suas contas. Então! Como pode ficar em casa de papo para o ar e dizer que é Natal?
Zozé!? Hei Zozé! Você vai comemorar o Natal em sua casa?
Eu vou rezar na igreja.
Não estou falando de rezar. Estou falando de festejar, tomar umas cachaças.
E rezar não é comemorar? Será que Jesus Cristo quer que eu encha a cara para comemorar o nascimento Dele?
Zozé sabia, era esperto, apesar da simplicidade e da ignorância em certos assuntos de banco de escola que alguns teimam em dizer que é burrice, que para comemorar não é preciso encher a cara. Basta respeitar como ele respeitava. Basta amar o semelhante como ele amava. Como também basta viver como ele vivia.
Era véspera de Natal, as bolas de algodão lembravam luzes. A chuva aproximava, o vento balançava as folhas e Zozé ali na labuta embodocado catando as maçãs, as de baixo estão mais pesadas. Vai chover, que bom! Não será preciso mijar no fardo.

A RUA ONZE

Trilhos e caminhos suaves são brutalmente trocados por verdadeiros degraus onde a enxurrada das impiedosas chuvas é o moderno engenheiro. Se houve encanto não saberei dizer, mas ouviam-se cantos vindo de lugares que não eram misteriosos, mas que em muitos metiam medo. O tempo não foi mais forte que o vento mas fazer esquecer seria tentar realizar o impossível. Ouve-se do vácuo incorrigível dos sons, que outrora poderiam ser ruídos, um choro sem lágrimas. Encontram-se na falta dos suaves caminhos e além das esculturas naturais, ossos sendo corroídos. Ossos que não são do ofício e nem do barão, mas que, sem dúvida, poderiam ser de um amigo fiel. O que foi um sonhado progresso, hoje se realiza sem progresso, e o sonho, um sonho frustado. Lamentar que ontem sonhamos alto demais é desistir de sonhar por um ideal hoje. Mentiras foram ditas através das cortinas de água e poeira. Quando a verdade se estampava e caminhava na frente dos enganados que se imaginavam espertos. Invisível não era, pois estava ali e desfilava com um sorriso de vitória fácil. Morrer, ainda não morreu, continua ali resistindo. Sobreviver é preciso, já ouvi esta frase antes, e mais ainda progredir. Parou. O tempo não parou, mas ela sim. Algum dia alguém perguntará porque ela é tão medieval.
O que houve com a rua Onze?
Onde estão os seus freqüentadores indecentes e depois decentes, que eram diferentes e hoje mostram os mesmos semblantes tristes e caminham cabisbaixos?

15.4.09

Gay? Eu?!!!

Como a vida é interessante e como, com um olhar atento podemos “ver” coisas que estão além de nossa visão. Isso não é filosofia cara (não existe filosofia barata) é o olhar atento e as avaliações das pequenas ações e gestos das pessoas que fazem parte da nossa vida.
Caminhando com um amigo numa rua pouco movimentada, ao observar os transeuntes, principalmente as transeuntes, ele fez o seguinte comentário: “Nossa! Que morena bonita.... com essa morena em casa eu.....” Não é necessário terminar a frase pois, o atento leitor já imaginou. Ao ouvir isso quis fazer uma brincadeira dizendo-lhe que ele era Gay e estava de olhos nos rapazes que passavam na rua. O que bem rápido ele respondeu: Gay? Eu sou casado e tenho dois filhos!
Ora meu caro leitor. Meu amigo na hora de elogiar a morena não lembrou que tinha família. E quando mencionei que ele poderia ser gay ele rapidamente se justificou que isso era impossível devido a ter família. Porque será dessa justificativa? Os homens podem ter famílias e desejarem relações extraconjugais com mulheres, mas não podem desejar com homens? Isso tudo é resquício ou explícito preconceito contra a minoria gay, contra o “diferente”.
Alguns conceitos maléficos sobre determinada opção sexual, estão sendo mudados. Espero. Outra frase que cairá em desuso é “ Meu filho é macho! Vai montar touro bravo!”
Para explicar a marginalização da frase acima, levo o leitor ao conto “ O segredo de Brokeback Mountain” (que se tornou filme) da escritora Annie Proulx, a história de uma repentina erupção de paixão sexual entre dois rancheiros pastoreando mil ovelhas em uma pastagem de inverno montanha acima. A paixão prossegue dolorosamente – longas separações e raros, porém explosivos, reencontros – depois de que se casam, e pelo restos de suas vidas. Lembrando que a principal diversão dos dois era montar touros bravos. O conto faz parte do livro Curto Alcance, Editora Intrínseca. Mas se não puder adquirir o livro, assista ao filme (já passou na Globo).
Depois de ler esse texto, acredito que lerá, meu amigo terá que encontrar outra justificativa para afirmar a sua sexualidade. Não acha?

Valter Figueira