27.2.18

Sou só. Só sou.

Grito desesperado:
- Quero um abraço!
Ouço pedras no zinco quente.
Falo de um amor perdido
só e a mim mesmo.
- Quero um afago!
Ouço maracanãs taramelar
no alto do mamoeiro.
Tenho medo e sussurro:
- Quero um beijo!
Ouço o estrilar dos grilos e
depois sonho com o vácuo obscuro.

Valter Figueira 27/02/2018

26.2.18

Vazio


Há um imenso vazio em mim
que fica aguardando ansiosamente
o que comumente transborda
em você.

16.2.18

Quero ficar só


Quero ficar só para contemplar
o orvalho da manhã
Quero que a brisa matinal traga
sua canção preferida para meu delírio
Quero que o primeiro raio solar
traga a paz que tanto desejo em meu coração
Quero ser capaz de contemplar o seu sorriso
refletido na calmaria solitária do lago
Quero um lago de lágrimas
Quero......só quero!
Valter Figueira 16/02/2018

15.2.18

Quero



Quero sentir novamente
a suavidade de seu rosto colado ao meu.
Quero um abraço forte para sentir
novamente o calor de um abraço seu.
Quero pegar em suas mãos andar na praça
para sentir a brisa que toca seu rosto tocar o meu.

Preciso sentir a suavidade de seu
corpo nu colado ao meu.
Preciso do amor forte e sincero
que a gente já viveu.


Valter Figueira 15/02/2018

14.2.18

Exercitando


Serei o tocador das liras flutuantes
Viajarei entre os olhares brilhantes
Contemplarei o olhar da musa apaixonadamente
Amarei com todo fervor de antes
Vencerei a solidão infernal de Dante
O tocador das liras flutuantes eu serei
Entre os olhares brilhantes eu viajarei
O olhar da musa apaixonadamente contemplarei
Com todo fervor de antes amarei
A solidão infernal de Dante vencerei
Poetarei para me livrar do abismo
Versarei para que compreendas minha paixão
Encontrarei em seu colo o carinho
Viverei eternamente apaixonado
Morrerei suplicando um beijo
Para me livrar do abismo poetarei
Para que compreendas minha paixão versarei
Em seu colo o carinho encontrarei
Eternamente apaixonado viverei
Suplicando um beijo morrerei.
VF 14/02/2018


8.2.18

Poesiar


Há algo no ar
nos fios de cobre
na brisa do mar.
-Quer casar comigo?
Há um perfume no ar
inebriante a laçar
o vento no mar.
- Pode ser amanhã?
Há uma música no ar
na calmaria do mar
mansamente a valsar.
- Tem que ser hoje!
Há uma poesia no ar
alguns ébrios de mar
e eu sóbrio a poetizar.
-Vamos poesiar.

Uns olhos azuis


Li a novela "Uns olhos azuis" na cadência das músicas gaúchas e apreciando a suavidade poética dos versos. Eu ia construindo mentalmente o olhar apaixonante da menina de olhos azuis. Adentrei e me perdi no contexto. Em momentos eu era o apaixonado Vilson nos bailes da juventude, deixando o corpo definhar devido a paixão platônica. Em outros momentos eu era o amigo escritor, lendo as aventuras e ouvindo as canções para buscar na poesia a suavidade e beleza que o texto se construía.
O livro permite uma leitura suave e leve como uma boa música.

5.2.18

PROSA & POESIA


Mais um poeta haicaísta que muito contribui e contribui para o nosso saber literário:
Guilherme de Almeida (Guilherme de Andrade de Almeida), advogado, jornalista, poeta, ensaísta e tradutor, nasceu em Campinas, SP, em 24 de julho de 1890, e faleceu em São Paulo, SP, em 11 de julho de 1969. Em 1932 participou da Revolução Constitucionalista de São Paulo. Em concurso organizado pelo Correio da Manhã foi eleito, em 16 de setembro de 1959, “Príncipe dos Poetas Brasileiros”. Um dos promotores da Semana de Arte Moderna, em 1922, foi fundador da Klaxon, a principal revista dos modernistas. Principais obras: Nós, poesia (1917); A dança das horas, poesia (1919); Messidor, poesia (1919); Livro de horas de Soror Dolorosa, poesia (1920); Era uma vez..., poesia (1922); A flauta que eu perdi, poesia (1924); Meu, poesia (1925); Raça, poesia (1925); Encantamento, poesia (1925); Do sentimento nacionalista na poesia brasileira, ensaio (1926); Ritmo, elemento de expressão, ensaio (1926); Simplicidade, poesia (1929); Você, poesia (1931); Poemas escolhidos (1931); Acaso, poesia (1938); Poesia vária (1947); Toda a poesia (1953).


Consolo
A noite chorou
a bolha em que, sobre a folha,
o sol despertou.

Os andaimes

Na gaiola cheia
(pedreiros e carpinteiros)
o dia gorjeia.

Pescaria

Cochilo. Na linha
eu ponho a isca de um sonho.
Pesco uma estrelinha.

Romance

E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas mãos nas minhas.

O haicai

Lava, escorre, agita
a areia. E enfim, na bateia,
fica uma pepita.

O pensamento

O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga.

Hora de ter saudade

Houve aquele tempo...
(E agora, que a chuva chora,
ouve aquele tempo!)

Infância

Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chamava-se "Agora".

Cigarra

Diamante. Vidraça.
Arisca, áspera asa risca
o ar. E brilha. E passa.

Consolo

A noite chorou
a bolha em que, sobre a folha,
o sol despertou.

Chuva de primavera

Vê como se atraem
nos fios os pingos frios!
E juntam-se. E caem.

Noturno

Na cidade, a lua:
a joia branca que boia
na lama da rua.

Os andaimes

Na gaiola cheia
(pedreiros e carpinteiros)
o dia gorjeia.
 


Tristeza

Por que estás assim,
violeta? Que borboleta
morreu no jardim?

Pescaria

Cochilo. Na linha
eu ponho a isca de um sonho.
Pesco uma estrelinha.

Janeiro

Jasmineiro em flor.
Ciranda o luar na varanda.
Cheiro de calor.

De noite

Uma árvore nua
aponta o céu. Numa ponta
brota um fruto. A lua?

Frio

Neblina? ou vidraça
que o quente alento da gente,
que olha a rua, embaça?

Festa móvel

Nós dois? - Não me lembro.
Quando era que a primavera
caía em setembro?

Romance

E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas mãos nas minhas.







Novo livro


3.2.18

Infinito


Para onde vai o ar que respiro
quando bate o vento?
Essa brisa que me acompanha
e depois se perde no horizonte,
para onde vai?
Para onde vão as imagens
que são esquecidas no firmamento?
Para onde vãos os rostos de ontem,
rostos que mudam com o tempo?
Para onde vai essa luz e esta sombra
companheira de atalhos e abismos?
Quando formos já não teremos sombra
e as pegadas se apagam.
Para onde vão a tristezas e os sorrisos
as imagens e os horizontes?
E as flores das janelas, os aromas
de teu amor distante?
Para onde irão esses versos
perdidos de tantas perguntas?
Valter Figueira
Do livro "Anjo Rosa"

Eu preciso


Foi-se embora o tempo 
em que eu poderia dizer 
simplesmente eu quero e eu posso.
Hoje eu preciso
de um encanto
de um abraço
de um sorriso.
Não quero,
o querer tem a possibilidade do
não querer
Eu preciso
de um encanto
de um olhar apaixonado
de gestos que indique um desejo.
Não mais desejo
o desejar tem a
possibilidade do não
ou do saciar
eu preciso.
Preciso de um encanto
de um abraço
de um beijo.
Chegaste como uma brisa
e partiste como um vendaval,
no intervalo tudo foi tão suave
que nem percebi que estávamos
vivendo uma paixão tempestuosa.

A garota do poema

Foi apenas um olhar, você disse.
Não foi! Aquele olhar me devastou
o brilho cegou-me que tropecei e cai de amores.

Foi apenas um sorriso, você disse.
Não foi! Aquilo foi um turbilhão de encantos
que me apaixonei.
Foi apenas um beijo, você disse.
Não foi! Nossas faces se encontraram
numa explosão de sentimentos e desejos.
Foi apenas um poema, você disse.
Não foi! Aquilo era o fiel retrato
da minha paixão.
Foi apenas um adeus, você disse.
Não foi! Foi o estopim para o choro contido
poemas e canções perdidas pelo vento
das frias manhãs de junho.