27.11.10

O Retorno - Nova obra de Valter Figueira

O eminente poeta e prosador Valter Figueira é, sem nenhuma dúvida, personagem de primeiríssima grandeza no cenário literário do município de Carlinda. Excelente escritor e versejador, que nos anais desta terra aformoseada de inexploradas florestas, emerge do silêncio que naturalmente reservava-o para este instante, para a realidade, trazendo sua mais recente obra – O RETORNO – escrito com perfeição e mestria de quem sabe fazer arte literária.

O autor nos proporciona - leitores assíduos que somos de suas narrativas circundadas de mistérios e suspenses, o prazer de embrenharmos pelos meandros do crime e das condições a que são submetidos os que cometem tais barbáries. É, portanto, ficção, mas nos traz à tona uma elevada lição de realismo comprovada em cada página consultada neste magnânimo trabalho, o qual merece toda a atenção, todo respeito e reverência acerca da qualidade em conduzir o leitor ao ápice das emoções.
A sensação que se tem é de estarmos vivenciando momentos de tantas crueldades em que o ser humano convive diariamente, incitado pelo progresso relâmpago e exacerbado, pela falta de planejamento causado mormente por autoridades incapazes, individualistas e déspotas que, conscientes ou inconscientemente, lançam à margem da criminalidade os que se sentem rejeitados ou perseguidos diante do preconceito estimulado pelo sistema arcaico, pútrido e - se me permitam - ditatorial, imposto através das classes dominantes, nocivas à sociedade. Foi pensando dessa maneira que decidi citar aqui o insigne escritor sacro Wagner P. Menezes, que nos brinda com essas belíssimas e sábias palavras: “Como um pássaro no ninho um objetivo nos resta. Não o de olhar o mundo, a vida, o espaço que nos rodeia do ´alto da árvore’, como soberano em um território inviolável, indiscutível, que nada teme, a não ser o traiçoeiro vôo da ave de rapina.” Qual esta ave há muitos seres humanos. A violência nos faz perder terreno onde se pode cultivar bondade e paz. E só será recuperado o que foi perdido se compreendermos o sentido real da vida, amando-nos.
Ao deitar os olhos sobre o texto original de O RETORNO, vi que se tratava de algo que me seduzia ao extremo, que me permitia adentrar no intimo do romancista que, longe dos grandes centros culturais, revela-se talentoso, comprometido a conquistar num curto espaço de tempo o reconhecimento merecido de prosador e da condição de projetar-se entre os mais influentes narradores de histórias desta geração. Não se pode (nem deve) negar o óbvio, o evidente. O autor e a obra se fundem num verdadeiro liame, numa união que perdurará por distantes datas.
Registrar num livro os acontecimentos do cotidiano (não importa a temática) é acender em meio às trevas uma luz que nos mostre a realidade, novos horizontes a serem conquistados.
Nós, leitores e literatos, juntos, agradecemos ao poeta, romancista, cronista e contista Valter Figueira, por nos conduzir de maneira sutil aos limites das alegrias, com suas histórias fantásticas e capazes de nos transpor para uma outra dimensão que, sem medo de errar, encontramos apenas no universo da escrita. E essa etérea essência da vida nos encaminha a conhecer com mais profundidade o que somos por meio das palavras. Elas são mágicas, misteriosas e percucientes. Penetram fundo na alma humana e bradam por justiça, por melhores condições num mundo conturbado. São como crianças órfãs de carinhos nos convidando a desbravar o infinito nas asas céleres do vento alísio.
Quando lemos, afastamos de vez a solidão e nos sentimos mais humanizados. Observamos o que nos diz Daniel Pennac: “ A idéia de que a leitura `humaniza o homem´ é justa no seu todo, mesmo se ela padece de algumas deprimentes exceções. Tornamo-nos um pouco mais `humanos´, entenda-se aí por um pouco mais solidários com a espécie ( um pouco menos `animais) depois de termos lido Tchekhov.” E mais adiante acresce: “ É uma tristeza imensa, uma solidão dentro da solidão, ser excluído dos livros – inclusive daqueles que não nos interessam.”
Espero que a leitura deste livro possa trazer, indiferentemente do que trata o conteúdo, instantes de reflexão e prazer. Leia-o sem repudiar os momentos de tensão O personagem não é tão cruel como julgamo-lo, quer deveras se libertar das amarras que o coloca em condição inferior na sociedade.

Ribamar Carvalho é poeta.e autodidata
E-mail para contato: rilelota@hotmail.com