15.4.18

Companheira


Companheira é o título do livro mais recente do escritor Nelson Hoffmann.  No mesmo dia que chegou pelos correios eu li. Quis ler uma segunda vez, uma terceira para então fazer um breve comentário. Companheira, quando vi a propaganda do livro achei que seria a esposa. Mas não é. A pequena novela é uma conversa poética e enriquecida de boas metáforas sobre morte. Isso mesmo, a Companheira do Hoffmann é a morte. Parece loucura? Não é! Como ele disse “ Loucura é ignorar a morte” O mundo girou para o autor depois de um problema cardíaco e dois meses no hospital. A sua destreza enquanto escritor fez do texto que relata sua agonia uma prazerosa degustação. E como não refletir sobre seus registros quando diz: “ Mas ela (a freira que o visitava) não enxergava que eu estava com a vida, a verdadeira, dentro de mim. Que eu tinha visitado a morte e a morte me alertara para os valores da vida. Valia a pena viver, ciente que a morte estava ao meu lado. ” Eu sempre tratei e vi a morte como o ponto final, no sofrimento, nas discussões e nunca como uma força para viver. Afinal porque temos que nos alimentar adequadamente, respeitar leis e regras senão por medo da morte? E no último parágrafo um resumo daquilo que pensamos depois de passar por problemas sérios. “ Caminho com a morte, sempre em mim, vivendo-me. As vaidades do mundo sumiram, a simplicidade é minha entrega total. A bondade dos outros é o meu sustento. E a morte é minha companheira, ensina-me a viver.”  Nelson Hoffmann é um mestre. Aprendo lendo e relendo seus textos e aprendo com o exemplo de simplicidade como ele vê algo que poderia levar a morte e transformou em inspiração para a vida. E repito com ele: A morte ensina-nos a viver.

3.4.18

Dúvidas


Não sei o que faço:
se atravesso a rua
ou tomo um trago.
Não sei o que faço:
se acendo um cigarro
ou pulo o muro.
Não sei o que faço:
se dou um forte abraço
ou fujo de teus laços.
Não sei o que faço:
se caminho sozinho
ou te aguardo.

2.4.18

Confuso III


Procuro sem cessar o teu brilhante olhar,
e vejo a agitação de teu dedo em riste,
vejo o brilho de teus lábios umedecidos
e percebo que ainda estou confuso.
Procuro no teu andar simples e compassado
o ritmo proeminente e singular de tua anca
e a sutileza harmônica do teu pé sobre o chão
e percebo que ainda estou confuso.
Procuro não estremecer ao ouvir tua voz
a chamar-me para o abismo espinhento
espero na sombra ter uma única certeza
mas por enquanto estou pluralmente confuso.

28.3.18

Agora! Agora?


Percebo agora
que era tudo vidro e quebrou
que eu não era tão forte
como você imaginava.
Percebo agora
que tudo era uma grande utopia
que o sentimento não era tão sólido
como eu dizia.
Percebo agora
que tudo era feito com mentiras
que se dissipou com o primeiro vendaval
não era o que nós queríamos.

26.3.18

Horror no garimpo





Conheci Luiz numa loja de móveis em que trabalhei alguns meses. Luiz era montador de móveis e motorista do caminhão de entrega. Num dia sem movimento ele contou uma história horrenda que de início não acreditei. Ele afirmou que era verdade que estava lá quando aconteceu e tinha fotos para mostrar. Conta ele que certo dia no garimpo, era feriado religioso, por isso os garimpeiros estavam de folga nos barracos. No barracão central que servia de refeitório, bar e local adequado para jogarem baralho ou simplesmente conversarem, estava a maioria dos trabalhadores.
Foi então que um avião começou a fazer uns voos sobre o barracão. Soubemos que um garimpeiro bamburrado queria fazer graça. Alugou o avião e pediu ao piloto para passar sobre o barracão para ver todos tremerem. Alguns saíram para fora e ficavam jogando praga nos ocupantes do avião.
Luiz pegou a sua máquina fotográfica e se distanciou do barracão para ver se conseguir alguma foto. Foi então que o piloto perdeu a direção, desceu demais da conta e foi atropelando quem estava na frente. O avião atravessou o barracão na altura das mesas parando bem próximo do balcão de bebidas, Era quase 10 metros de salão que foi todo tomado pelo avião.
Teve acidentados e algumas mortes. Alguns sujeitos com braços, pernas e costelas quebrados. Nisso o Luiz mostrou as fotos. Tinha dois sujeitos que foram cortados ao meio na altura da cintura. As fotos eram horripilantes.
Os garimpeiros que não estavam feridos se organizaram para ajudar os feridos e correr atrás de locomoção para o hospital mais perto. Piloto e passageiro estavam mortos.
Tinha outro avião na pista. Buscaram o piloto que estava pescando. Organizaram os feridos no avião e mais duas pessoas e o piloto se prepararam para o voo. Quando o avião levantou voo sem problema e já davam com o caso resolvido foi quando, não muito longe, o avião explodiu no ar.
Então começou um novo trabalho para eles. Como já tinham avisado a polícia via rádio era só aguardar para recolher os corpos. Luiz me mostrou outra foto, agora eles no meio da mata recolhendo os restos mortais dos ocupantes do avião que explodiu.


20.3.18

Quero pedras.


Joguem-me pedras

por favor pedras lascadas
não quero as polidas: rejeitarei
Quero pedras brutas
rochas enigmáticas
rochas com ranhuras misteriosas
para que eu desvende
os mistérios e os segredos
das pedras
da humanidade
da vida.

12.3.18

Ah! Era a lua




Eu olhava para o céu estrelado infinitamente
e pela cortina de minha janela te via
tão espetacularmente bela quando cheia.
- Ah! A lua. Era você Lua.

A mesma atração marítima por ti sentia
era um momento de buscar inspirações
para as minhas irrisórias canções de amor.
- Ah! A lua. Era você Lua.

Emocionado e solitário deitava na cama
pela janela você suavemente e calmamente
entrava e respeitosamente acariciava meu rosto.
- Ah! A lua. Era você Lua.

Procuro respostas para tristes perguntas
algo que sanasse minhas desesperadas dúvidas
no seu dourado brilho que me entorpece e me guia.
- É a lua. Que Lua.

11.3.18

Lembranças: O carrapicho e eu




Quando tinha 16 anos, estudava a noite e fui trabalhar no supermercado do Mazinho, em Cruzeiro do Sul- Pr. O mercado era pequeno, tinha apenas eu de funcionário. Trabalhava ali a família toda do Mazinho, ele a esposa, dois filhos adolescentes e eu. Era mês de dezembro e o feriado de Natal se aproximava.
Para contar esse caso preciso explicar quem era o carrapicho. Era um maltrapilho, não sei se posso dizer isso dele. Não tinha morada, então podemos considerar que era um morador de rua. Era sabido que dormia no salão paroquial, atrás da igreja católica. Seu aspecto lembrava uma pessoa alcoolizada. Não se cuidava, sempre a barba e o cabelos por fazer. Alguns diziam que ele tinha problemas mentais e assim contavam várias histórias sobre o coitado do carrapicho. Acredito que ele vivia de pequenos bicos e de doações. As crianças e jovens sentiam medo dele devido ao modo como se vestia, não era adepto a banhos. Nunca soube que era uma pessoa má, e não era. Quando alguém perguntava de onde viera ele respondia que veio de Três Corações, a cidade de Pelé. Em outras vezes dava respostas diferente a mesma pergunta.
Na véspera de Natal o Sr. Mazinho me convidou para almoçar no dia seguinte na casa dele, com a família. Me senti importante e com medo. Era a primeira vez que iria almoçar na casa de alguém que não fosse parente. Para mim ele era rico e em minha pequena cabeça de adolescente ricos e pobres não se misturavam. Eu era o empregado e ele o patrão. Então fui. Foi a primeira vez que almocei sentado todos em uma mesa. Em casa isso não acontecia. Foi a primeira vez que usei garfo e faca. Na mesa somente a família: o pai do Mazinho, a esposa, os dois filhos adolescente e uma menina ainda criança e além de mim estava também o carrapicho.
O Sr. Mazinho poderia ter convidado pessoas de seu círculo de amizade como prefeito, vereadores e outros. Mas, como homem de bom coração convidou um morador de rua. Uma pessoa que certamente passaria a natal esquecido por muitos, mas não foi esquecido pelo Mazinho. No início eu estranhei. Depois de refletir percebi que aquele gesto de convidar o carrapicho mostrou para mim que estava na casa de uma família acolhedora, que pensa no outro. Eu era tímido, se tivesse mais curiosidade tinha aprendido grandes lições de vida com o Mazinho e também com o carrapicho.
Hoje o Mazinho já deve ser avô e bisavô e ainda mora na mesma cidade. O mercado fechou, no prédio funciona uma loja de uma amiga minha de infância. O Carrapicho, soube depois que a família veio buscar, ele foi encontrar os seus.

27.2.18

Sou só. Só sou.

Grito desesperado:
- Quero um abraço!
Ouço pedras no zinco quente.
Falo de um amor perdido
só e a mim mesmo.
- Quero um afago!
Ouço maracanãs taramelar
no alto do mamoeiro.
Tenho medo e sussurro:
- Quero um beijo!
Ouço o estrilar dos grilos e
depois sonho com o vácuo obscuro.

Valter Figueira 27/02/2018

26.2.18

Vazio


Há um imenso vazio em mim
que fica aguardando ansiosamente
o que comumente transborda
em você.

16.2.18

Quero ficar só


Quero ficar só para contemplar
o orvalho da manhã
Quero que a brisa matinal traga
sua canção preferida para meu delírio
Quero que o primeiro raio solar
traga a paz que tanto desejo em meu coração
Quero ser capaz de contemplar o seu sorriso
refletido na calmaria solitária do lago
Quero um lago de lágrimas
Quero......só quero!
Valter Figueira 16/02/2018

15.2.18

Quero



Quero sentir novamente
a suavidade de seu rosto colado ao meu.
Quero um abraço forte para sentir
novamente o calor de um abraço seu.
Quero pegar em suas mãos andar na praça
para sentir a brisa que toca seu rosto tocar o meu.

Preciso sentir a suavidade de seu
corpo nu colado ao meu.
Preciso do amor forte e sincero
que a gente já viveu.


Valter Figueira 15/02/2018

14.2.18

Exercitando


Serei o tocador das liras flutuantes
Viajarei entre os olhares brilhantes
Contemplarei o olhar da musa apaixonadamente
Amarei com todo fervor de antes
Vencerei a solidão infernal de Dante
O tocador das liras flutuantes eu serei
Entre os olhares brilhantes eu viajarei
O olhar da musa apaixonadamente contemplarei
Com todo fervor de antes amarei
A solidão infernal de Dante vencerei
Poetarei para me livrar do abismo
Versarei para que compreendas minha paixão
Encontrarei em seu colo o carinho
Viverei eternamente apaixonado
Morrerei suplicando um beijo
Para me livrar do abismo poetarei
Para que compreendas minha paixão versarei
Em seu colo o carinho encontrarei
Eternamente apaixonado viverei
Suplicando um beijo morrerei.
VF 14/02/2018


8.2.18

Poesiar


Há algo no ar
nos fios de cobre
na brisa do mar.
-Quer casar comigo?
Há um perfume no ar
inebriante a laçar
o vento no mar.
- Pode ser amanhã?
Há uma música no ar
na calmaria do mar
mansamente a valsar.
- Tem que ser hoje!
Há uma poesia no ar
alguns ébrios de mar
e eu sóbrio a poetizar.
-Vamos poesiar.

Uns olhos azuis


Li a novela "Uns olhos azuis" na cadência das músicas gaúchas e apreciando a suavidade poética dos versos. Eu ia construindo mentalmente o olhar apaixonante da menina de olhos azuis. Adentrei e me perdi no contexto. Em momentos eu era o apaixonado Vilson nos bailes da juventude, deixando o corpo definhar devido a paixão platônica. Em outros momentos eu era o amigo escritor, lendo as aventuras e ouvindo as canções para buscar na poesia a suavidade e beleza que o texto se construía.
O livro permite uma leitura suave e leve como uma boa música.

5.2.18

PROSA & POESIA


Mais um poeta haicaísta que muito contribui e contribui para o nosso saber literário:
Guilherme de Almeida (Guilherme de Andrade de Almeida), advogado, jornalista, poeta, ensaísta e tradutor, nasceu em Campinas, SP, em 24 de julho de 1890, e faleceu em São Paulo, SP, em 11 de julho de 1969. Em 1932 participou da Revolução Constitucionalista de São Paulo. Em concurso organizado pelo Correio da Manhã foi eleito, em 16 de setembro de 1959, “Príncipe dos Poetas Brasileiros”. Um dos promotores da Semana de Arte Moderna, em 1922, foi fundador da Klaxon, a principal revista dos modernistas. Principais obras: Nós, poesia (1917); A dança das horas, poesia (1919); Messidor, poesia (1919); Livro de horas de Soror Dolorosa, poesia (1920); Era uma vez..., poesia (1922); A flauta que eu perdi, poesia (1924); Meu, poesia (1925); Raça, poesia (1925); Encantamento, poesia (1925); Do sentimento nacionalista na poesia brasileira, ensaio (1926); Ritmo, elemento de expressão, ensaio (1926); Simplicidade, poesia (1929); Você, poesia (1931); Poemas escolhidos (1931); Acaso, poesia (1938); Poesia vária (1947); Toda a poesia (1953).


Consolo
A noite chorou
a bolha em que, sobre a folha,
o sol despertou.

Os andaimes

Na gaiola cheia
(pedreiros e carpinteiros)
o dia gorjeia.

Pescaria

Cochilo. Na linha
eu ponho a isca de um sonho.
Pesco uma estrelinha.

Romance

E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas mãos nas minhas.

O haicai

Lava, escorre, agita
a areia. E enfim, na bateia,
fica uma pepita.

O pensamento

O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga.

Hora de ter saudade

Houve aquele tempo...
(E agora, que a chuva chora,
ouve aquele tempo!)

Infância

Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chamava-se "Agora".

Cigarra

Diamante. Vidraça.
Arisca, áspera asa risca
o ar. E brilha. E passa.

Consolo

A noite chorou
a bolha em que, sobre a folha,
o sol despertou.

Chuva de primavera

Vê como se atraem
nos fios os pingos frios!
E juntam-se. E caem.

Noturno

Na cidade, a lua:
a joia branca que boia
na lama da rua.

Os andaimes

Na gaiola cheia
(pedreiros e carpinteiros)
o dia gorjeia.
 


Tristeza

Por que estás assim,
violeta? Que borboleta
morreu no jardim?

Pescaria

Cochilo. Na linha
eu ponho a isca de um sonho.
Pesco uma estrelinha.

Janeiro

Jasmineiro em flor.
Ciranda o luar na varanda.
Cheiro de calor.

De noite

Uma árvore nua
aponta o céu. Numa ponta
brota um fruto. A lua?

Frio

Neblina? ou vidraça
que o quente alento da gente,
que olha a rua, embaça?

Festa móvel

Nós dois? - Não me lembro.
Quando era que a primavera
caía em setembro?

Romance

E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas mãos nas minhas.







Novo livro


3.2.18

Infinito


Para onde vai o ar que respiro
quando bate o vento?
Essa brisa que me acompanha
e depois se perde no horizonte,
para onde vai?
Para onde vão as imagens
que são esquecidas no firmamento?
Para onde vãos os rostos de ontem,
rostos que mudam com o tempo?
Para onde vai essa luz e esta sombra
companheira de atalhos e abismos?
Quando formos já não teremos sombra
e as pegadas se apagam.
Para onde vão a tristezas e os sorrisos
as imagens e os horizontes?
E as flores das janelas, os aromas
de teu amor distante?
Para onde irão esses versos
perdidos de tantas perguntas?
Valter Figueira
Do livro "Anjo Rosa"

Eu preciso


Foi-se embora o tempo 
em que eu poderia dizer 
simplesmente eu quero e eu posso.
Hoje eu preciso
de um encanto
de um abraço
de um sorriso.
Não quero,
o querer tem a possibilidade do
não querer
Eu preciso
de um encanto
de um olhar apaixonado
de gestos que indique um desejo.
Não mais desejo
o desejar tem a
possibilidade do não
ou do saciar
eu preciso.
Preciso de um encanto
de um abraço
de um beijo.
Chegaste como uma brisa
e partiste como um vendaval,
no intervalo tudo foi tão suave
que nem percebi que estávamos
vivendo uma paixão tempestuosa.

A garota do poema

Foi apenas um olhar, você disse.
Não foi! Aquele olhar me devastou
o brilho cegou-me que tropecei e cai de amores.

Foi apenas um sorriso, você disse.
Não foi! Aquilo foi um turbilhão de encantos
que me apaixonei.
Foi apenas um beijo, você disse.
Não foi! Nossas faces se encontraram
numa explosão de sentimentos e desejos.
Foi apenas um poema, você disse.
Não foi! Aquilo era o fiel retrato
da minha paixão.
Foi apenas um adeus, você disse.
Não foi! Foi o estopim para o choro contido
poemas e canções perdidas pelo vento
das frias manhãs de junho.