Tive a oportunidade de ler um livro lançado ainda em 2009 pelo pesquisador americano Martin Carnoy com o apoio da Fundação Lemann. Carnoy estuda diversos aspectos da educação em seus mais de 40 anos de carreira em investigações científicas em educação e economia e possui diversos outros títulos publicados, é autor também de Estado e Teoria Política (2003).
A vantagem acadêmica de Cuba: por que seus alunos vão melhor na escola propõe esmiuçar os motivos pelos quais os alunos cubanos vêm obtendo melhores desempenhos em diversas provas internacionais e despontam como referência em qualidade de educação na América Latina. Para isso, o autor e os pesquisadores Amber Gove e Jeffery Marshall se apoiam principalmente em resultados das disciplinas de matemática de três países: Brasil, Chile e Cuba. Além dos índices internacionais, eles também se utilizam de provas de nível nacional e registro de aulas de matemática que acompanharam nos três países.
O livro é muito bem detalhado e preocupado (até o ponto a que se propõe) em explicar aos leitores quais são os órgãos e instituições responsáveis por diversos índices ou decisões político-educacionais nos diferentes países. A atenção aos índices e aos dados técnicos pode cansar alguns leitores que buscam no livro uma fórmula para aplicar em sala de aula no Brasil. Por outro lado, os índices ajudam a manter o texto com um pé na realidade, diferente de muitos trabalhos em pedagogia e educação que se perdem sob uma aura extremamente utópica (sem rigor científico algum) e mostram um desconhecimento profundo da realidade educacional brasileira por parte de certos autores.
Essa visão exageradamente romântica da educação não se expressa na análise de Carnoy. Apesar da amplitude perigosa de seu objeto de estudo, a comparação dos dados parece bem feita, com uma apresentação didática da situação educacional de cada país e de sua história recente, no que diz respeito à área.
Por outro lado, o leitor pode achar muito perigoso comparar a situação educacional de países com perfis tão diferentes. Ainda mais, entendendo como os governos desses três países se diferem na atualidade, pode parecer que a comparação entre os resultados não seja suficiente. O autor argumenta que a comparação é feita entre países latino-americanos, sob um contexto histórico-político recente similar, já que todos possuem experiência com regimes autoritários.
Para ele, a educação em Cuba tem um caráter mais eficaz do que a praticada nos outros países da América Latina (Brasil e Chile no caso desse estudo). Os motivos para o sucesso cubano, segundo o autor, seriam um controle mais rígido do estado na educação dos alunos e um capital social compartilhado entre os indivíduos dessa educação.
O controle cubano a qual o autor se refere tem origem na história conturbada que conhecemos de Cuba. Diferente do que ocorre no Brasil e no Chile, o governo cubano assume toda a responsabilidade pela educação das crianças, tirando dos pais praticamente qualquer poder de decisão. No Chile, o autor diz que a responsabilidade do governo pela educação é muito menor. Lá, os pais tem autonomia total sobre o futuro acadêmico dos filhos. No Brasil, essa responsabilidade ainda é mais rateada entre o governo e os pais, ambos têm sua parcela de responsabilidade e ambos possuem autonomia em boa parte das decisões acadêmicas das crianças.
Em cuba, os alunos mais jovens passam o dia todo com o mesmo professor, em regime de educação integral. Além disso, as intervenções em sala por parte dos diretores é rotineira. No Brasil e no Chile, o professor tem mais autonomia em sala de aula, e uma mesma turma possui vários professores, muitas vezes, mesmo quando jovens. Para Carnoy, o modelo cubano contribui para que o aluno veja no professor mais que um exemplo, mas que tenha com ele uma relação próxima de confiança e cumplicidade.
Outra razão pela qual o autor acredita conferir ao modelo cubando o que ele considera vantagem é a escolha pela profissão de docente. Em cuba, os professores são valorizados e ocupam um cargo respeitado socialmente. Desse modo, entre aqueles que escolhem a profissão docente estão os melhores alunos da escolas, que são também incentivados com bons salários (relativamente) e boa posição social.
Combinando todas essas razões, o autor chega à conclusão de que Cuba possui sim uma grande vantagem acadêmica pela maior intervenção estatal em todos os níveis de educação, e em todos os espaços; pela valorização do professor; pelo regime integral de educação (com o mesmo professor) durante a formação dos alunos mais jovens; e pelo modelo rígido do material didático.
Rafael Rocha - Publicado no site futuroprofessor.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário