28.3.11

A formação de professores e a qualidade de ensino


MARIA M.Kennedy é professora da Michigan State University. O objecto da sua investigação é a prática de ensino, centrando-se em três vectores: a relação entre conhecimento e prática de ensino; a natureza dos conhecimentos utilizados na prática de ensino; e em como o conhecimento da investigação e iniciativas políticas podem melhorar a prática docente. De 1986 a 1994 dirigiu o Centro Nacional de Pesquisa (EUA) sobre a aprendizagem do professor, ganhou cinco prémios pelo seu trabalho, entre os quais mais recentemente o prémio Margaret B. Lindsey de investigação sobre a Formação de Professores. É ainda consultora de quatro Ministérios da Educação, do Banco Mundial e de uma série de organizações nacionais.
Actualmente baseia a sua investigação em que temáticas?
(…) Neste momento baseio a minha investigação na literatura sobre a contribuição da formação de professores, nomeadamente para a qualidade da sua prática docente. Pretendo perceber quais as estratégias que os investigadores têm utilizado para tentar descrever e documentar a qualidade de ensino. Ao mesmo tempo procuro compreender o que constitui a qualidade no ensino. Nós temos muitos tipos diferentes de expectativas para os professores: para ser estimulante, para promover o compromisso intelectual, a sensibilidade cultural, para ser produtivo, etc. Eu tenho essas ideias ordenadas em quatro dimensões para a qualidade geral dos professores: o conhecimento (que inclui tanto o conteúdo como a pedagogia), crenças e os valores, as práticas de sala de aula real, e o impacto na aprendizagem dos alunos. Estou interessada em ver o que sabemos sobre cada uma delas e como estas dimensões se relacionam entre si.
O eterno debate é saber se os professores devem conhecer o tema, ou serem formados em pedagogia e estratégias de ensino. Resumidamente, quais são os seus principais pontos de vista?
Na minha revisão de literatura, tenho encontrado evidência empírica de que os cursos em cada uma dessas áreas, em última análise contribui para a aprendizagem do aluno. No entanto, cada área também tem um limite para a sua utilidade. Depois de algum número de cursos, cursos adicionais não acrescentam qualquer valor ao já existente. Não existe literatura suficiente neste âmbito, mas é bastante claro que depois de certo ponto, mais não significa melhor. E isso parece ser verdade para o conhecimento do conteúdo, bem como para a pedagogia.
Nas suas publicações, refere-se ao "conhecimento codificado". O que quer dizer com isso?
Eu uso essa frase para referir-me a todo o conhecimento que é realizado em livros e artigos, escritos e armazenados. Nesse sentido a informação é codificada, e o quebra-cabeças, para mim, é a forma como os professores podem transformar toda essa informação em estratégias de acção que faria a diferença nas salas de aula. Saber sobre a fotossíntese, por exemplo, não significa que o professor possa falar sobre isso com um aluno da segunda classe.
Não é possível os professores aprenderem a ensinar apenas por praticá-lo? É assim que todos nós aprendemos a ser pais.
Acho que o maior problema em aprender a ensinar é que acontecem muitas coisas ao mesmo tempo. Elas são crianças, e querem socializar uns com os outros. (…). E existem também as normas sociais para serem atendidas. E o próprio professor tem esperanças pessoais e medos, ansiedades, e assim por diante. Então, quando se ensina, tenta-se prestar atenção a todas essas coisas ao mesmo tempo. (…) Quando as coisas ficam fora de mão, eu descubro que basta gritar com os alunos para eles se calarem. E isso funciona. Eles calam-se. Então passa-se a depender da mesma estratégia no futuro. Mas esta é uma solução a curto prazo para um problema, quando uma solução a longo prazo é necessária. Não é uma estratégia educativa, é uma estratégia de sobrevivência.
 Há aqueles que acreditam que a formação de professores deve ser realizada nas escolas, não nas "torres de marfim das academias". Qual é a sua opinião a este respeito?
 Num mundo ideal, esta seria uma óptima ideia. O trabalho nas escolas tornaria imediatamente evidente quem tem as qualidades pessoais que são necessárias, mas daria aqueles que vieram com expectativas ingénuas uma oportunidade para mudar a sua perspectiva antes de investir nessa carreira. Seria permitir aos professores encontrar alternativas de equilibrar todos os problemas, entre uma imensa miríade deles, do que necessitam para ser professores. (…) Há orçamentos incertos quase todos os anos. As escolas são incrivelmente desorganizadas e os lugares fragmentados. Elas não são capazes de fornecer aos professores o tipo de ambiente de trabalho estável e confiável que permitirá a promoção do trabalho intelectualmente coerente. Para além disso, os professores não estão com disposição de adicionar aos seus encargos a tarefa de ajudar os novatos.

Publicado no blog Vox Nostra

Um comentário:

Luciana Harada disse...

Olá Valter seu blog é muito bom, e muito educativo, não consegui ler tudo, mas sempre estarei passando por aqui.
Ontem recebi seu e- mail na câmara, muito obrigada!!!
O tempo passa muito rápido, corre né.
Parabéns
Luciana Harada