"Professores com baixa expectativa em relação aos seus alunos podem comprometer - e muito - o processo de aprendizagem dos jovens. A boa notícia? O inverso também pode acontecer.
A psicologia apropriou-se da história e definiu o "efeito Pigmalião" como aquele em que o indivíduo se apaixona pelo objeto de desejo que ele mesmo construiu. (...) "Quando os professores esperam um grande progresso de seus alunos, eles progridem duas vezes mais rapidamente. O desempenho do aluno é proporcional às expectativas do professor"(…).
(…) O grande porém do efeito Pigmalião é que, na mesma proporção, também se pode esperar o fracasso do alunado, quando professores têm baixa expectativa em relação ao futuro escolar dos jovens.(…) Mas o professor tem consciência disso? (…) "Ele sempre atribui a maioria do caos escolar a fatos externos - a rebeldia do aluno, a família desestruturada, a política pública ineficaz. O que não deixa de ser fato. A questão é o docente não fazer uma auto-análise para saber se ele também não faz parte do problema", afirma.
(…) "É evidente que os alunos refletem as expectativas que colocamos sobre eles. O problema, porém, é que ou colocamos expectativas enormes sem os meios, os cenários, para suas aquisições pela construção cognitiva, ou colocamos expectativas baixas demais por desatenção, cansaço, descaso, enfim desânimo, ou desrespeitamos a curiosidade espontânea do aluno, ignorando os movimentos naturais de sua mente".
(…) "A expectativa que os educadores nutrem sobre os educandos é um fator crucial para o desenvolvimento da aprendizagem, afinal, sem esperar muito dos alunos, provavelmente os professores não irão desafiá-los o suficiente para aprenderem, o que deve resultar em baixos níveis de aproveitamento. Além disso, em contato com uma baixa expectativa por parte de seus professores, os estudantes tendem a se sentir desmotivados e desmobilizados".
(…) "Antes tida como um local restrito aos que detinham inteligência, riqueza e tempo, a escola passou a acolher toda a população a partir do entendimento de educação como direito do cidadão e dever do Estado. Antes, se o aluno não aprendia, não seguia uma conduta, ele ia sendo, pouco a pouco, excluído da escola. Hoje isso não pode acontecer. O professor precisa conviver com todo tipo de aluno. Ele é o sucesso ou não do professor, porque ele é o seu desafio", analisa.
"Há certa ausência de reflexão nas escolas a respeito da fase de vida dos estudantes - a juventude -, e pouco diálogo entre as práticas educativas e as vivências juvenis. Esse processo é fundamental para a construção de sentidos para a escolarização tanto para professores como para alunos. É impossível pensar nas expectativas de êxito e de projetos futuros sem fazer da escola um espaço de discussão e formulação dessas questões."
"Alunos e professores precisam de mais comunicação para igualar expectativas: cada um precisa dizer o que espera do outro. O problema hoje é que ninguém conversa para entender isso. Se eu não saio da queixa e não entro na explicação das regras do jogo, nada vai mudar."
Rachel Bonino, in Revista Educação, nº 149 - Vox noxtra
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