10.3.11

Como é lindo ver o dia amanhecer...

Com essa frase título começa o que o poeta Valter Figueira classificou como poema número um. O primeiro texto que guardou. É claro que teve outros que perderam nos antigos cadernos e nos cadernos de poesias das meninas de sua escola.

Outro poema lhe deixou uma cômica lembrança, era na verdade um samba que tinha feito a letra para que ele e seus colegas cantassem no fundo da sala. Na hora da execução entrou o professor de português e deu 3 dias de suspensão para a turma do samba, ele e mais dois colegas.

Que ironia! O professor de português impedindo a criação daquele que poderia ser um ótimo compositor. Mas isso não o abateu. A inspiração poética surgia a medida que as paixões aconteciam.

No segundo grau encontrou outro professor de português que fez a diferença. Esse cobrava, nunca estava satisfeito com a produção escrita de seus alunos e isso fazia com eles refaziam os textos diversas vezes e nesse refazer o aprendizado ia se aperfeiçoando. Foi esse professor que lhe disse: Jogue essa literatura de folhetim norte americana no lixo e leia os autores brasileiros. Envergonhado ele fez e começou a ler literatura brasileira, foi assim que conheceu e travou amizades literárias com Machado de Assis; Casimiro de Abreu; Alvares de Azevedo entre outros.

Em 1989, outra mudança marcaria e exigiria dele um novo aprendizado e uma nova adaptação ao mundo dos homens civilizados e acivilizados. Passou de um extremo a outro: Conheceu o mar em Santa Catarina e depois conheceu a Floresta Amazônica, o que depois a classificou de muralha natural intransponível. Fixou, em meio de agruras e medos, residência no norte de Mato Grosso, numa cidade que mais parecia saída de um filme de conquista do oeste norte americano. Presenciou tiroteio e acidentes rodoviários; garimpeiros amarelos ceifados pela malária e o esbanjamento dos bamburrados. Presenciou os pés inchados solitários e abandonados nas ruas e a ostentação dos coronéis do ouro. Com medo, e com certeza o medo o salvou várias vezes, não quis conhecer o garimpo em funcionamento, mas visitou os estragos deixados nas margens dos rios pelo trabalho quase escravos dos perseguidores do metal dourado.

Sua produção poética continuava, principalmente nas noites solitárias iluminadas por uma lamparina e velas. Nesse momento imitava Alvares de Azevedo e dizia que na sua mesa, feita de embalagem de geladeira, havia uma vela, um copo de vinho, um dicionário e alguns nomes da literatura. Procurou mas não encontrou Byron ( em outros momentos ficou com medo de conhecer Byron e ser influenciado por ele). Na sua mesa não tinha uma Bíblia. Mas havia folhetos do catolicismo e das religiões evangélicas que começavam as jornadas para o enriquecimento. Nessa época estava mais interessado na filosofia Budista. Viajou da forma que pode entre as centenas de livros que lera, tornou-se frequentador assíduo da biblioteca municipal e da livrarias. Travou contatos com autores de diversas partes do Brasil e de outros países.

A divulgação de sua produção começou de forma tímida, quando enviava poemas e textos para revista e jornais. Não se conformava com certos tipos de notícias e informações que eram publicadas, por isso fazia uma crônica para ironizar o acontecido ou alertar o leitor sobre as entrelinhas maléficas dos textos. Seu nome era divulgado mas poucos eram os que conheciam. Certo dia viu alguém lendo um texto seu na faculdade, outra pessoa fez um pequeno elogio ao autor, o que ele prontalmente se identificou “Esse sou eu”. E assim surgia entre indas e vindas entre críticas e elogio o escritor. Tanto que em certo momento achou que estava preparado para reunir seus poemas num livro, e com a colaboração de outro poeta do extremo sul, lançou do seu “Poesias”. Como de costume divulgou para os cantos o feitio. Mas quando a obra chegou, numa viagem cheias de paradas impróprias, ele felicitou-se de emoção e chorou de raiva. O fato lembrava um personagem de Machado de Assis. O livro não estava como sonhara – faltou uma revisão final- entre erros e os acertos, ficou os acertos e a boa acolhida dos leitores. Fez sucesso, foi reconhecido, admirado e premiado.

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