Ensinar a quem não quer é uma das missões impossíveis do professor. Porque o professor não pode aprender em vez do aluno. Porque o verbo aprender não suporta o imperativo. Porque aprender é um acto que pressupõe a vontade. Que fazer, então, num tempo em que muitos alunos parecem ter “perdido” a vontade de aprender? Enuncio, de seguida, um roteiro possível para acender a vontade, organizado segundo diversas variáveis, procurando sistematizar o que se "sabe" sobre a arte e a ciência da motivação e da implicação dos alunos nas tarefas escolares:
A. Currículo e programas
1. Ajustar o currículo aos contextos sociais e culturais locais
2. Relacionar os conteúdos com os contextos de vida dos alunos
3. Evidenciar a empregabilidade social e pessoal dos conhecimentos
4. Relevar a importância das aprendizagens emocionais, relacionais, cognitivas para a vida
5. Colocar o currículo e o programa ao serviço das aprendizagens dos alunos
6. Incorporar as inteligências múltiplas no desenvolvimento do currículo
B. Missão do professor
7. Criar oportunidades de aprendizagem para cada aluno
8. Recriar o currículo e o programa em função dos alunos
9. Descobrir os “detonadores” da motivação intrínseca de cada aluno
10. Usar o programa para que os alunos aprendam
11. Usar a avaliação para que os alunos aprendam mais
C. Agrupamento de alunos
12. Flexibilizar o agrupamento de alunos (grupos temporários de nível, grupos de interesse similares, grupos heterogéneos)
D. Gestão do tempo
13. Adequar o tempo às necessidades de cada aluno (no campo das aprendizagens, no campo da avaliação…)
E. Cumprimento de regras
14. Clarificar as regras básicas da convivência escolar
15. Implicar os alunos na construção dessas regras
16. Difundir massivamente essas regras para que sejam conhecidas e interiorizadas
17. Tornar claro que as acções dos alunos têm consequências e que ninguém é inimputável
18. Adoptar o princípio da tolerância zero em relação à violência
19. Construir, afirmar e valorizar a autoridade que preza o outro
F. Organização e gestão do espaço
20. Diversificar a disposição do espaço em função da actividade a desenvolver (mesas em filas, em U, em círculo, em pequenos grupos, face a face…)
21. Circular pelo espaço, gerir múltiplas interacções, observar o trabalho dos alunos em contexto de sala de aula (o professor como organizador de situações de aprendizagem)
G. Métodos e técnicas de ensino
22. Diversificar os métodos de ensino (dentro de cada aula, de aula para aula): breves exposições, trabalho de pares, trabalho individual, trabalho de projecto, breves debates, trabalho de pesquisa, …)
23. Recorrer pontualmente à tutoria entre alunos
24. Criar oportunidades para que os alunos escrevam a sua vida (e a partilham quando quiserem)
25. Organizar situações de aprendizagens dentro e fora da sala de aula que sejam distintas e situadas na “zona de desenvolvimento próximo” de cada aluno (suficientemente exigente, não fácil, mas não situada numa “zona” que o aluno não possa realizar)
26. Ligar o ensino à vida
H. Relação pedagógica
27. Gostar do outro (gostar das pessoas que moram nos alunos)
28. Escutar os alunos
29. Acreditar que todos os alunos podem aprender
30. Criar oportunidades para que cada aluno tenha (pequenos) sucesso
31. Celebrar os pequenos sucessos
32. Dar feedback frequente e orientador
33. Conhecer o percurso escolar de cada aluno
34. Conhecer o contexto de vida dos alunos
35. Inspirar os alunos para que se auto-motivem
36. Gostar da matéria que lecciona
37. Respeitar as singularidades e as diferenças
38. Exigir na medida máxima do possível
I. Relação escola-família
39. Usar o “TPC” para implicar a família na valorização da escola
40. Contratualizar as regras básicas da escolarização
41. Convocar a família (também pelos bons motivos)
J. Modalidades de avaliação
42. Privilegiar a avaliação formativa e formadora ao serviço das aprendizagens
43. Usar a avaliação sumativa e a classificação para estimular os alunos
44. Encontrar sempre no que aluno realiza algo que possa ser valorizado
K. Instrumentos de avaliação
45. Diversificar os instrumentos de avaliação (prova oral, prova experimental, prova escrita, projectos de diversa natureza…)
46. Reconhecer que o uso predominante dos testes escritos cria diversas injustiças escolares e gera insucesso nos alunos menos competentes nesta área.
Publicado no blog Terrear
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