“SN: Os caminhos da cultura e da educação, que  se fundem, requerem continuidades muito grandes. Transformações, mas  continuidades. Raramente saltos! (…) 
 E: Esse ancoramento na história e na  cultura vem marcar toda a tua visão da escola e da pedagogia. 
 SN: A Escola para mim é um instrumento  poderosíssimo para regular e construir a pluralidade cultural e fazer caminho  para a unidade da ciência. E se se perde essa dimensão, perde-se tudo. Sempre  entendi um professor como um intelectual, como um trabalhador intelectual.  (…) E que um dos seus instrumentos mais poderosos, também um dos artefactos  mais poderosos da invenção humana, é a escrita. (…). É através da acção de  construção de textos pela fala e pela escrita, que se constrói também o  conhecimento. Esta falta de consciência leva a que só o professor é que fala.  Mas se o aluno não pode falar o conhecimento, está impedido de utilizar uma  estratégia fortíssima para a construção do conhecimento. Se o aluno não escreve  o conhecimento, se só responde a perguntas, como é que constrói a escrita do  conhecimento? (…) 
Os professores têm de aspirar sempre, não só  a ser práticos, mas a pensar e a construir discursos sobre as suas próprias  práticas (…) Essa possibilidade de pensar, projectar, dialogar a profissão é  que funda a profissão. (…). 
No diálogo que tenho mantido com António  Nóvoa cheguei à conclusão de que teremos de acentuar mais a responsabilidade  pública da educação. E voltar a rever, em conjunto, em sociedade, os vários  papéis educativos: quer das famílias, quer das organizações privadas, quer das  várias organizações públicas a vários níveis (desde os municípios, juntas de  freguesia, Estado central, etc.). Rever os tempos e as acções e, provavelmente,  rever também as responsabilidades da escola. Porque o que está a acontecer é uma  inflação brutal de funções e responsabilidades todas atiradas para a escola  (…)
 (…) A apropriação do conhecimento faz-se  pela construção e pela acção, pela fala ou pela escrita, e não é possível  construir aprendizagens sem falar e escrever as aprendizagens. A construção  do conhecimento, historicamente, foi sempre feita assim: dialogando, escrevendo.  É necessário criar ambientes onde os alunos possam falar, possam dizer o  conhecimento, escrever o conhecimento e pô-lo a circular, principalmente na sua  comunidade, para perceberem, desde logo, como conhecer é socialmente útil. Eu  não estou a aprender para amanhã. Eu estou a aprender para já. Tudo o que eu  aprender tenho de partilhá-lo com os outros para ajudar os outros, e se estou a  fazer um estudo eu apresento-o aos outros e submeto-o ao juízo dos outros. É ali  que ganha sentido. Não é ao professor que eu vou ensinar. O professor é uma  figura um pouco imaginária. O aluno tem de produzir para as pessoas reais,  com o professor também lá dentro e que o ajuda a ir mais longe.”
 Revista Educação. Temas e Problemas (Publicado no blog vox nostra)
 
 

 
 
