30.4.12

A Rua Onze

Trilhos e caminhos suaves são brutalmente trocados por verdadeiros degraus onde a enxurrada das impiedosas chuvas é o moderno engenheiro.
Se houve encanto não saberei dizer, mas ouviam-se cantos vindo de lugares que não eram misteriosos, mas que em muitos metiam medo.
O tempo não foi mais forte que o vento mas fazer esquecer seria tentar realizar o impossível. Ouve-se do vácuo incorrigível dos sons, que outrora poderiam ser ruídos, um choro sem lágrimas. Encontram-se na falta dos suaves caminhos e além das esculturas naturais, ossos sendo corroídos. Ossos que não são do ofício e nem do barão, mas que, sem dúvida, poderiam ser de um amigo fiel.
O que foi um sonhado progresso, hoje se realiza sem progresso, e o sonho, um sonho frustado. Lamentar que ontem sonhamos alto demais é desistir de sonhar por um ideal hoje.
Mentiras foram ditas através das cortinas de água e poeira, quando a verdade se estampava e caminhava na frente dos enganados que se imaginavam espertos.
Invisível não era, pois estava ali e desfilava com um sorriso de vitória fácil. Morrer, ainda não morreu, continua ali resistindo. Sobreviver é preciso, já ouvi esta frase antes, e mais ainda progredir. Parou. O tempo não parou, mas ela sim. Algum dia alguém perguntará porque ela é tão medieval.

O que houve com a rua Onze?

Onde estão os seus freqüentadores indecentes e depois decentes, que eram diferentes e hoje mostram os mesmos semblantes tristes e caminham cabisbaixos?

Valter Figueira
Cronica publicada nos Livros:
" A semente caiu em terra fértil"
"A morte do Xerife"
  

Nenhum comentário: