Quando tinha 16 anos, estudava a noite e
fui trabalhar no supermercado do Mazinho, em Cruzeiro do Sul- Pr. O mercado era
pequeno, tinha apenas eu de funcionário. Trabalhava ali a família toda do
Mazinho, ele a esposa, dois filhos adolescentes e eu. Era mês de dezembro e o
feriado de Natal se aproximava.
Para contar esse caso preciso explicar
quem era o carrapicho. Era um maltrapilho, não sei se posso dizer isso dele.
Não tinha morada, então podemos considerar que era um morador de rua. Era
sabido que dormia no salão paroquial, atrás da igreja católica. Seu aspecto
lembrava uma pessoa alcoolizada. Não se cuidava, sempre a barba e o cabelos por
fazer. Alguns diziam que ele tinha problemas mentais e assim contavam várias
histórias sobre o coitado do carrapicho. Acredito que ele vivia de pequenos
bicos e de doações. As crianças e jovens sentiam medo dele devido ao modo como
se vestia, não era adepto a banhos. Nunca soube que era uma pessoa má, e não
era. Quando alguém perguntava de onde viera ele respondia que veio de Três
Corações, a cidade de Pelé. Em outras vezes dava respostas diferente a mesma
pergunta.
Na véspera de Natal o Sr. Mazinho me
convidou para almoçar no dia seguinte na casa dele, com a família. Me senti
importante e com medo. Era a primeira vez que iria almoçar na casa de alguém
que não fosse parente. Para mim ele era rico e em minha pequena cabeça de
adolescente ricos e pobres não se misturavam. Eu era o empregado e ele o
patrão. Então fui. Foi a primeira vez que almocei sentado todos em uma mesa. Em
casa isso não acontecia. Foi a primeira vez que usei garfo e faca. Na mesa
somente a família: o pai do Mazinho, a esposa, os dois filhos adolescente e uma
menina ainda criança e além de mim estava também o carrapicho.
O Sr. Mazinho poderia ter convidado
pessoas de seu círculo de amizade como prefeito, vereadores e outros. Mas, como
homem de bom coração convidou um morador de rua. Uma pessoa que certamente
passaria a natal esquecido por muitos, mas não foi esquecido pelo Mazinho. No
início eu estranhei. Depois de refletir percebi que aquele gesto de convidar o
carrapicho mostrou para mim que estava na casa de uma família acolhedora, que
pensa no outro. Eu era tímido, se tivesse mais curiosidade tinha aprendido
grandes lições de vida com o Mazinho e também com o carrapicho.
Hoje o Mazinho já deve ser avô e bisavô e
ainda mora na mesma cidade. O mercado fechou, no prédio funciona uma loja de
uma amiga minha de infância. O Carrapicho, soube depois que a família veio
buscar, ele foi encontrar os seus.
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