11.7.16

Vote em mim



Quando deparamos com o processo eleitoral, ou melhor com a época de campanha é que procuramos saber o que de fato fez aquele candidato que, não votamos nele e nem entendemos como ele foi eleito. É claro que sabemos como ele foi eleito, afinal existe gente que vota em alguns tipos que realmente dá vergonha de ser representado pelo sujeito.
Para me explicar como é o processo, ou melhor, para exemplificar que nos cargos eletivos existe alguns que não poderia estar lá. Entrevistei o Sr. X, legislador e candidato a um novo mandato. Vamos a entrevista.
Eu: Gostaria que o Sr. explicasse como foi o seu dia de trabalho hoje.
Sr. X: Me chama de Excelência, afinal de contas você está falando com uma autoridade.
Eu: Tudo bem Excelência, como estou lhe entrevistando para um artigo sobre o trabalho de um legislador me conte como foi o seu dia hoje.
Sr. X: Bem começamos com uma oração, porque é importante glorificar a Deus e agradecer por tudo que conquistamos. Tivemos uma reunião com secretários e depois com os meus correligionários.
Eu: Excelência, o Sr. está sendo acusado de desviar 50 por cento da verba para a construção de uma ponte. Que inclusive está com problema estrutural.
Sr. X: Bem uma parte foi direcionado para a obra de Deus, Ele sabe o quanto oramos e o quanto fazemos para Sua obra. A ponte está bem, todos os dias oramos para que nada demais aconteça com ela.
Eu: O Sr. Está informado que hoje, com a passagem de um caminhão carregado de madeira ela trincou.
Sr. X: Quem foi o pecador que passou por lá e permitiu que ela trincasse? Só pode ser um filho do diabo. Uma pessoa carregada de pecados.
Eu: Olha Sr. X, foi o seu irmão dirigindo um caminhão vindo de sua fazenda.
Sr. X: Então deve ser esse povo pecador da cidade que não ora e não pratica a vontade de Deus.
Eu: Mas Sr. Excelência, a ponte está caindo e vai acabar matando pessoas, tudo porque usaram material inferior, porque a verba foi desviada.
Sr. X: Lembre e escreva aí. Desviada para uma obra de Deus. Deus protegerá as pessoas dessa cidade.
Eu. Excelência, mas estão dizendo que o dinheiro desviado foi para construir uma piscina e churrasqueira em sua mansão.
Sr. X. Então, minha casa também é uma obra de Deus. Afinal sou o mensageiro de Deus.
Eu: O sr. Não acha que o senhor é muito desonesto para ser mensageiro de Deus.
Sr. X: Vamos terminar essa entrevista.
Eu: mas o senhor é candidato. Fale como será sua campanha.
Sr. X: O povo sabe quem eu sou. Sabe que metade do meu salário vai para a igreja e para as cestas básicas que a igreja distribui.
Eu: Mas Excelência, distribuir cestas básicas é compra de votos.
Sr. X: Você, rapazinho insolente, não entende de política.


O sujeito, homem de Deus, construtor da obra divina, fechou o semblante e ameaçou jogar um cinzeiro em mim. Ao sair, contemplei a fachada de sua casa e imaginei o quanto de dízimo e desvio de verbas foi empregado ali. Ao lado do portão um cartaz com o sujeito com cara de pedinte e a frase vote em mim.

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